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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 9

A Jornada Sob o Céu Rasgado

O vento cortante da noite parecia ainda mais gelado enquanto Tao e Shen seguiam em direção às montanhas ao norte. A escuridão era quase palpável, envolvendo os dois como se tentasse impedi-los de avançar. Os tremores da terra, inicialmente sutis, tornavam-se cada vez mais frequentes à medida que se aproximavam do destino, cada um mais forte e ameaçador que o anterior.

Shen, com sua lanterna balançando suavemente à frente, mantinha o olhar fixo no caminho sinuoso e traiçoeiro. Seu silêncio era pesado, reflexo de sua preocupação com o que os aguardava. Tao, por outro lado, mantinha seus olhos atentos na floresta ao redor. Cada ruído, cada farfalhar de folhas parecia amplificado na noite silenciosa. Os uivos distantes dos lobos, agora mais ferozes, ecoavam como se a própria natureza estivesse em agonia, pressentindo o caos iminente.

—    Quanto tempo até chegarmos à caverna? — perguntou Tao, quebrando o silêncio tenso. A tensão em sua voz era evidente, cada passo parecia mais pesado que o anterior, como se o solo estivesse resistindo ao avanço deles.

Shen parou por um momento, observando a linha escura das montanhas que se erguia à distância, uma muralha imponente e hostil. Ele respirou fundo antes de responder, escolhendo cuidadosamente as palavras.

—    Ainda há um longo caminho, — disse ele, sua voz baixa, mas carregada de preocupação. — No entanto, os tremores... Eles estão ficando mais intensos. Acredito que estamos próximos do epicentro. O despertar está afetando a terra ao redor, e quanto mais perto estivermos, pior ficará. O selo não pode segurar por muito mais tempo.

Tao assentiu em silêncio, o coração acelerado. Ele já sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. A cada tremor, a urgência crescia. O tempo era um inimigo cruel. Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, outro tremor sacudiu o chão com força, fazendo com que pequenas pedras caíssem das encostas próximas. Wang estendeu a mão instintivamente, buscando apoio, o mundo ao seu redor parecia girar.

—    Precisamos continuar, — murmurou Tao entre dentes cerrados, seu olhar se estreitando enquanto ele lutava para manter o equilíbrio. — Não podemos perder tempo. Quanto mais rápido chegarmos à caverna, mais chances teremos de impedir o pior.

Shen concordou com um aceno de cabeça, mas uma sombra de dúvida passou por seus olhos. Ele conhecia aquelas montanhas melhor do que qualquer um no vilarejo e sabia que o caminho à frente seria traiçoeiro, ainda mais com a terra reagindo ao despertar. Mesmo assim, não havia outra opção.
 
Conforme avançavam, a trilha estreita subia e serpenteava pelas encostas rochosas, tornando-se cada vez mais difícil de seguir. As árvores, outrora densas, começavam a rarear, e o solo sobre seus pés parecia cada vez mais instável. Em várias ocasiões, pequenos deslizamentos de terra quase os derrubaram. Tao sentia o suor frio escorrendo por suas costas, mesmo com o vento gelado da noite.

Sua respiração se tornava pesada à medida que o terreno se tornava mais árduo e os tremores mais violentos.

—    Esses tremores… É como se a própria montanha estivesse viva, — murmurou Tao, olhando em volta, apreensivo.

—    De certa forma, está, — respondeu Shen, sua voz grave. — A entidade adormecida no selo não é apenas uma força espiritual. Ela está ligada à terra, aos elementos. Quando ela começa a despertar, tudo ao seu redor responde. O chão, o ar, os animais... Tudo entra em desequilíbrio.

Outro tremor violento sacudiu o chão, interrompendo a conversa. Desta vez, o som gutural que acompanhava o tremor parecia vir das profundezas da terra, como se a própria montanha estivesse gemendo de dor. Tao tropeçou, quase perdendo o equilíbrio, mas Shen foi rápido, segurando seu braço e puxando-o de volta antes que ele caísse.

—    Estamos ficando perigosamente perto, — murmurou Shen, os olhos correndo pela paisagem rochosa ao redor. — A montanha está reagindo ao despertar. Temos que continuar, mas com cautela.

Wang olhou ao redor, sentindo o peso crescente da escuridão. As sombras nas encostas pareciam se mover, inquietas, como se algo estivesse esperando, observando. Ele engoliu em seco, sentindo o pavor crescer dentro de si, mas sabia que hesitar agora seria fatal.

—    Vamos continuar, — disse ele, mais para si mesmo do que para Shen. — Estamos
perto.

Eles seguiram em frente, os tremores sacudindo o chão intervalos cada vez mais curtos
e intensos. O caminho estreito subia abruptamente, e o terreno rochoso parecia prestes a desmoronar a qualquer momento. Cada passo era uma batalha, e cada som no ar carregava a promessa de algo sombrio e catastrófico.

De repente, outro tremor, ainda mais violento, sacudiu a montanha com força suficiente para fazer grandes rochas se desprenderem e rolarem encosta abaixo. Shen gritou um alerta, sua voz cortando o caos.

—    Cuidado!

Ele empurrou Tao para o lado, e os dois caíram ao chão enquanto uma chuva de pedras grandes descia com fúria. O barulho das rochas batendo violentamente contra o solo ecoava pela noite como trovões, e o chão ainda tremia sobre seus corpos. Tao rolou, ofegante, sentindo o coração martelar no peito.

—    Está ficando cada vez pior, — ofegou Tao, tentando se levantar. Seus músculos estavam tensos, o corpo já começava a mostrar sinais de cansaço.

Shen, já em pé, estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar. O velho parecia ainda mais cansado, mas seus olhos brilhavam com uma determinação feroz.

—    Estamos quase lá, — disse Shen, ofegante. — Mas a partir de agora, precisamos ser ainda mais cuidadosos. Não sabemos o que mais pode estar à nossa espera. Esse lugar… está mudado.

Tao assentiu, lutando contra o cansaço. Ele sabia que não poderiam parar agora. O destino de todos dependia de sua persistência. Continuaram a avançar, os tremores sacudindo o solo com uma intensidade assustadora. A trilha os levava para uma área mais aberta, com menos vegetação, onde rochas pontiagudas e irregulares dominavam o cenário.

À medida que avançavam, uma sensação estranha começou a tomar conta de Tao. O ar ao redor parecia mais denso, carregado, quase como se estivesse eletrificado. Ele sentiu os pelos de seus braços se arrepiando, uma presença invisível parecia espreitar ao redor deles, uma sombra nas margens de sua visão. Não era apenas o despertar que se aproximava. Havia algo mais… Algo que os observava.

—    Você sente isso? — perguntou Wang, a voz baixa e cheia de cautela, seus olhos correndo pelas sombras ao redor.

Shen parou, seu corpo rígido. Ele olhou ao redor, estreitando os olhos como se estivesse tentando ver além da escuridão.

—    Sim, — disse ele calmamente, mas havia um tom de alerta em sua voz. — Não estamos sozinhos.

Algo mais despertou junto com a entidade.

Um calafrio percorreu a espinha de Tao, e ele agarrou o punho de sua espada, pronto para o que quer que fosse. Os uivos dos lobos cessaram de repente, deixando o silêncio ainda mais opressor. O som de pedras rolando ao longe ecoava pela montanha, e o barulho de algo mais, algo que ele não conseguia identificar, começou a se aproximar. A presença se intensificava, apertando o coração de

Tao com uma sensação de ameaça iminente.

De repente, sem aviso, uma sombra colossal emergiu das rochas à frente. Movendo-se com uma rapidez assustadora, a criatura parecia maior do que qualquer lobo que Tao já tivesse visto. Não era apenas um animal. Havia algo sobrenatural em seus olhos vermelhos brilhando na escuridão, como brasas acesas nas profundezas da noite.

Shen ergueu a lanterna rapidamente, lançando luz sobre o monstro. O que a luz revelou fez o coração de Tao disparar. A criatura tinha um corpo musculoso e grotesco, garras afiadas como lâminas e presas que brilhavam ameaçadoramente sobre a luz da lanterna. Seus olhos, fixos nos dois viajantes, emitiam um rosnado gutural que fazia o chão vibrar sobre seus pés.

—    Cuidado! — gritou Shen, sacando sua lâmina curta.

A criatura avançou com uma velocidade aterradora, e Tao mal teve tempo de sacar sua espada. Ele se jogou para o lado, evitando por pouco as garras afiadas. Shen se moveu com uma agilidade surpreendente para sua idade, golpeando o flanco da criatura com precisão e força.

O monstro rugiu, um som que parecia sair das profundezas da terra, e girou em direção a Shen, pronto para retaliar. Wang, com a adrenalina pulsando em suas veias, encontrou um ponto vulnerável e, com um grito de guerra, desferiu um golpe certeiro em sua lateral.

O grito de dor da criatura ecoou pela noite, mas antes que pudessem reagir, ela recuou, desaparecendo nas sombras com a rapidez de um relâmpago.

—    O que era isso? — perguntou Tao, ofegante, seu corpo inteiro tremendo de tensão. Ele olhou para o sangue escuro que cobria sua espada, ainda incrédulo com o que acabara de enfrentar.

Shen, igualmente ofegante, limpou o suor da testa e olhou para a escuridão onde a criatura havia desaparecido.

—    Uma das sentinelas, — disse ele com a voz tensa. — Guardiões do selo. Eles estão aqui para proteger a caverna... e impedir que qualquer um interfira no despertar.

Tao fixou o olhar em Shen, sentindo seu coração martelar no peito.

—    Se estão tentando nos impedir... — disse ele, recuperando o fôlego. — Isso significa que estamos no caminho certo.

Shen assentiu, os dois cientes de que a verdadeira batalha ainda estava por vir. A caverna, o selo, e o despertar aguardavam além da próxima curva.

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