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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 22

Sombras na Floresta

Tao caminhava rapidamente pela floresta, sua respiração pesada de frustração. Os acontecimentos do café da manhã ainda ressoavam em sua mente.

—    Se precisar falar sobre qualquer coisa... estamos aqui. — ela disse, um toque de preocupação na voz.

Ele apenas assentiu, evitando o olhar dela. O peso de suas visões, a sensação de uma desgraça iminente, pairava sobre ele como uma nuvem de tempestade, tornando sua mente um campo de batalha.

O ar fresco deveria ter sido um conforto, mas a mente de Tao fervilhava de preocupação. Seus pés o levaram mais fundo na floresta, cada passo ecoando com uma necessidade de escapar — nem que fosse por um breve momento. À medida que as árvores se tornavam mais densas, seus pensamentos voltavam para a vila, cada imagem mais vívida do que a anterior. A sensação incômoda em seu estômago só havia crescido nos últimos dias, como se algo estivesse prestes a acontecer. O sonho, sempre o mesmo: figuras sombrias se aproximando, a vila em chamas e um sussurro ameaçador que o chamava para mais perto de algo que ele ainda não conseguia nomear.

—    O que isso significa? — ele sussurrou para si mesmo, seus olhos se fixando em uma árvore antiga. — Por que não consigo entender?

Seus pensamentos foram interrompidos quando algo chamou sua atenção — um movimento à distância. Tao parou, seus sentidos se aguçando. O som do vento nas folhas parecia distante, quase irrelevante. Ele avançou cautelosamente, tomando cuidado para não fazer barulho enquanto se aproximava do local. A princípio, pensou que poderia ser os saqueadores. Rumores haviam se espalhado pela vila, e todos estavam apreensivos, esperando que eles aparecessem a qualquer momento.

—    Será que eles estão finalmente aqui? — ele murmurou, um frio correndo pela espinha. A ideia de um confronto o deixava inquieto, mas a curiosidade o empurrava para frente.

Mas o que ele viu não era um bando de saqueadores. Em vez disso, uma figura solitária estava ajoelhada perto de uma árvore, mexendo em algo no chão. Tao apertou os olhos, tentando distinguir os detalhes. A figura vestia roupas escuras e sem detalhes, misturando-se com as sombras, e parecia estar observando a área em vez de se preparando para atacar. Um frio percorreu seu corpo.

—    O que ele está fazendo? — pensou Tao, sua mente se agitando com perguntas.
 
Uma sensação de inquietação subiu pela espinha de Wang. “Um espião?” O pensamento cruzou imediatamente sua mente. Mas se esse homem era um batedor ou informante, para quem ele estava trabalhando? Para os saqueadores? Ou para alguém completamente diferente? As dúvidas se espalhavam como raízes de uma planta, agarrando-se a sua mente.

Ele transferiu o peso de um pé para o outro, o estalo de um graveto sobre sua bota revelando sua presença. A cabeça da figura se levantou rapidamente, e por um breve momento, seus olhos se encontraram. O coração de Tao disparou, batendo como um tambor em sua caixa torácica. Um segundo se arrastou, o mundo ao redor deles se tornou insignificante. Mas antes que ele pudesse agir, a figura fugiu, desaparecendo na densa floresta.

—    O que foi isso? — Tao exclamou, a adrenalina pulsando em suas veias. Por alguns segundos, ponderou se devia persegui-lo, mas algo o segurou. Sem provas. Ele não podia agir sem elas. Sua suspeita sozinha não era suficiente, e se ele acusasse alguém sem evidências, isso poderia causar pânico desnecessário na vila.

Enquanto recuperava o fôlego, uma voz familiar ecoou em sua mente — o sussurro da entidade que ele sentia desde a noite mal dormida. A voz tinha uma qualidade etérea, como um eco distante que ressoava em seu ser.

—    Você não pode confiar no que vê... ainda. Seja paciente.

Os punhos de Tao se cerraram ao lado do corpo. Ele não gostava desse jogo de sombras e segredos.

A entidade sempre fora uma presença intrigante em sua vida, mas agora, suas palavras pareciam mais enigmáticas do que nunca.

—    Como posso ser paciente quando a vila pode estar em perigo? — ele questionou, frustrado com a resposta vaga. — Não posso ficar parado enquanto sombras se aproximam.

Ele respirou fundo e voltou em direção à vila. A floresta, que outrora fora um lugar de consolo, agora parecia opressiva, como se olhos invisíveis observassem cada um de seus movimentos. Cada árvore parecia sussurrar segredos que ele não podia compreender.

Quando chegou em casa, o céu havia escurecido, nuvens pesadas rolando do norte. O ar estava carregado de eletricidade, como se o próprio clima estivesse ciente da tensão que pairava sobre ele.

Dentro de casa, o calor familiar da lareira o saudou, e seus pais estavam sentados à mesa. O cheiro do chá quente e do pão fresco era um lembrete reconfortante do lar, mas ele sentia que algo estava muito errado.

Seu pai ergueu o olhar de uma xícara de chá, sua expressão calma como sempre. Era um pilar de estabilidade em meio ao caos, e Tao sempre sentiu que podia confiar nele. Mas agora, havia uma nuvem de dúvida sobre o que ele poderia dizer.

—    Está tudo bem, filho? — seu pai perguntou, notando o olhar no rosto de Tao.
 
Tao hesitou antes de falar, seus pensamentos girando como um redemoinho. Ele não queria preocupar seus pais mais do que já estavam, mas a urgência da situação o impulsionava.

—    Acho que… eu vi algo na floresta — ele começou, a voz hesitante. — Um homem, ele estava ajoelhado perto de uma árvore. Não parecia um saqueador, mas algo nele não me pareceu certo.

Sua mãe trocou um olhar com seu pai, uma centelha de preocupação passando por seu rosto. O silêncio que se seguiu parecia pesado, como se todos estivessem ponderando sobre o mesmo pensamento: o que aquele homem queria?

Seu pai se recostou na cadeira, seu comportamento calmo inabalável. Ele sempre tivera uma maneira de acalmar as águas turbulentas, mas Tao sentiu uma inquietação crescente.

—    Já tivemos batedores por aqui antes, tao. Não é novidade. A vila é pequena, mas estamos no caminho de muitos viajantes. Não há necessidade de tirar conclusões precipitadas.

—    A voz de seu pai era serena, mas Wang não conseguia se convencer.

—    Mas e se… e se ele estiver aqui por um motivo? — Tao insistiu, sua frustração crescendo. — É como se ele estivesse se preparando para um ataque? Não posso simplesmente ignorar isso!

—    Calma, meu filho — respondeu sua mãe, a mão acariciando suavemente o braço de Tao. — Você precisa avaliar a situação com clareza. O que você viu pode não ser o que parece.

Tao respirou fundo, tentando controlar suas emoções. — Mas se for? E como se estivermos todos em perigo e não soubermos? E como esse homem estivesse mapeando a vila?

Seu pai inclinou-se para frente, o olhar firme. — Se ele fosse uma ameaça real, ele teria feito algo. O fato de que ele não o fez indica que ele não é um perigo imediato. Precisamos agir com prudência, não com medo.

Tao assentiu, embora o nó de inquietação em seu estômago se recusasse a afrouxar. As palavras de seu pai faziam sentido, mas sua intuição estava em desacordo. — Mas e se…? — ele começou, mas seu pai o interrompeu gentilmente.

—    Ficaremos bem. — O tom de seu pai era firme, como uma rocha inabalável em um mar tempestuoso. — Vivi aqui a vida toda. Conheço os sinais de problemas. Isso? Isso é apenas mais um viajante. Não agimos com base em rumores ou medos.

—    Eu entendo, mas… — Wang forçou um pequeno sorriso, embora a dúvida persistisse em sua mente. — É difícil ignorar o que eu vi. Não posso deixar de pensar que algo está se aproximando, como uma sombra na escuridão.

A expressão do pai se suavizou, e ele estendeu a mão, colocando-a sobre o braço de Tao. — Filho, às vezes nossa mente nos prega peças. As sombras podem se tornar mais assustadoras do que realmente são. O que importa é a família e a comunidade. Mantenha seus olhos abertos, mas não deixe que o medo controle você.

Tao olhou para os olhos de seu pai, buscando a verdade nas palavras dele. Ele queria acreditar que tudo ficaria bem, mas as visões persistentes o assombravam. Ele precisava de respostas, mas também precisava proteger aqueles que amava.

—    Obrigado, pai — ele respondeu, sua voz mais suave. — Eu só… quero que todos estejam seguros.

Enquanto se dirigia ao seu quarto, não conseguia se livrar da sensação de que algo maior estava em jogo — algo que nem mesmo as palavras tranquilizadoras de seu pai poderiam dissipar. Ele se deitou na cama, o olhar fixo no teto, tentando ordenar seus pensamentos. As sombras dançavam em sua mente, cada uma mais ameaçadora que a anterior.

Do lado de fora, o vento uivava pelas árvores, carregando consigo um leve sussurro que apenas Tao podia ouvir. Ele se levantou, dirigindo-se à janela, olhando para a floresta que havia explorado. Cada movimento das folhas parecia um chamado, uma promessa de que as respostas que ele buscava estavam ali, escondidas entre as sombras.

—    O que você está escondendo de mim? — ele sussurrou para a floresta, a determinação crescendo em seu interior. — Eu não vou desistir até descobrir a verdade.

Com essas palavras, Tao sentiu que a escuridão que o cercava começava a recuar, mesmo que apenas um pouco. Ele sabia que o caminho à frente seria cheio de desafios, mas estava preparado para enfrentá-los. A vila, sua família e seu futuro dependiam disso.

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