A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 31
O Aviso Final
O silêncio que pairava sobre o lugar era quase opressivo, interrompido apenas pelo som distante do vento balançando as folhas das árvores e o crepitar ocasional das tochas ao longo das barricadas.
Todos sabiam que o tempo estava acabando. A sombra de Lorde Feng parecia se aproximar, invisível, mas inegável.
Wang estava na praça central, cercado por um pequeno grupo de guardas e moradores. Ele havia passado a noite de vigília, observando as sombras na floresta, sentindo o peso da responsabilidade crescer a cada instante. Seu corpo estava cansado, mas sua mente não parava. Ele sabia que Feng estava testando a vila, jogando com seus medos. E agora, enquanto o sol mal iluminava o céu nublado, a próxima jogada de Feng chegava na forma de um novo mensageiro.
O homem surgiu cavalgando pela estrada principal, trazendo consigo um ar de urgência. Ele estava vestido com trajes escuros, simples, mas o símbolo do dragão no peitoral deixava claro que ele falava em nome de Feng. Assim que desmontou, os guardas o cercaram, mas ele ergueu as mãos em sinal de paz.
— Trago uma mensagem do meu senhor, Lorde Feng — disse o homem, sua voz firme, mas sem traços de emoção.
Os anciões da vila, incluindo Boron e Eldar, já estavam reunidos na praça, aguardando a mensagem com rostos tensos. Tao se aproximou, segurando a espada na cintura, mas mantendo-se em silêncio.
Ele sabia que este momento seria decisivo.
O mensageiro puxou um pergaminho selado com o símbolo de Feng e o entregou a Boron, que hesitou antes de abrir. Suas mãos tremiam levemente, mas ele manteve a postura firme enquanto desdobrava o papel e lia as palavras em voz alta.
— "Aos habitantes da vila Liang," — começou Boron, sua voz grave ecoando pela praça. — "Esta é a última vez que ofereço a oportunidade de renderem a Pérola Celestial sem derramamento de sangue. Se não a entregarem até o pôr do sol de amanhã, enviarei meu exército para destruir a vila e tomar o que me pertence. Não haverá negociações. Escolham com sabedoria, pois o tempo está se esgotando."
O silêncio que se seguiu às palavras de Boron foi quase insuportável. Os moradores ao redor começaram a murmurar, suas vozes cheias de medo e desespero. Alguns choravam, enquanto outros olhavam para os anciões, buscando orientação. Mas ninguém parecia saber o que fazer.
— Ele está blefando — disse Eldar, tentando manter a calma. — Feng sabe que enfrentará resistência. Ele não quer gastar seus recursos em uma vila pequena como a nossa.
— E se ele não estiver blefando? — questionou Merith, o mais jovem dos anciões. — Não podemos ignorar essa ameaça. Não podemos sacrificar a vila inteira por algo que talvez nem possamos proteger.
As palavras de Merith fizeram com que o murmúrio aumentasse. Tao observava em silêncio, sentindo a frustração crescer dentro dele. Ele sabia que muitos ali já estavam considerando entregar a Pérola, mas ele também sabia que fazer isso seria um erro.
— Entregar a Pérola não é uma opção! — Tao finalmente falou, sua voz firme cortando os murmúrios como uma lâmina. Todos os olhos se voltaram para ele. — Vocês acham que Feng vai parar se entregarmos o que ele quer? Ele é um tirano. Se dermos a ele a Pérola, ele apenas usará o poder dela para destruir mais vilas, escravizar mais pessoas. E quem garante que ele nos poupará depois disso?
Boron olhou para Tao, sua expressão séria. — E o que sugere, Wang? Lutar contra Feng? Resistir contra um exército inteiro com homens mal treinados e armas improvisadas?
Tao cerrou os punhos. Ele sabia que Boron estava certo em parte, mas também sabia que não podiam simplesmente se render.
— Sei que estamos em desvantagem — respondeu ele. — Mas temos algo que Feng não tem: a determinação de proteger nosso lar. Esta vila pode parecer pequena e insignificante para ele, mas é tudo o que temos. Se não lutarmos agora, estaremos condenados de qualquer forma.
Os murmúrios na multidão diminuíram, mas a tensão continuava evidente. Tao sentiu os olhares de seus pais entre a multidão. Cheng, seu pai, parecia preocupado, enquanto Mei tinha um olhar misto de orgulho e medo.
O mensageiro de Feng, que havia permanecido em silêncio até então, deu um passo à
frente.
— Meu senhor é um homem de palavra — disse ele, sua voz fria. — Se entregarem a Pérola, ele poupará suas vidas. Mas se resistirem, ele não mostrará piedade. Pensem bem antes de tomarem sua decisão.
— Já ouvimos o suficiente — disse Boron, sua voz carregada de exaustão. Ele fez um gesto para que os guardas escoltassem o mensageiro para fora da vila.
Quando o homem partiu, a praça ficou novamente em silêncio. Boron olhou para os moradores reunidos, suas feições marcadas pelo peso da responsabilidade.
— Reuniremos o conselho mais tarde para decidir o que fazer — disse ele, antes de se retirar com os outros anciões.
Os moradores começaram a se dispersar, mas o medo e a incerteza permaneciam. Tao permaneceu na praça, sentindo-se cada vez mais isolado. Ele sabia que muitos dos seus vizinhos não compartilhavam sua determinação em resistir. Para eles, entregar a Pérola parecia ser a única maneira de sobreviver.
Mais tarde, Tao foi até sua casa, onde encontrou Cheng sentado perto da lareira, com o rosto marcado pela preocupação. Mei estava na cozinha, mas espiava o marido e o filho de tempos em tempos, claramente ciente da tensão entre eles.
— Você falou bem hoje, Tao — disse Cheng, quebrando o silêncio. — Mas isso não significa que todos concordam com você. Muitas pessoas estão com medo. E com razão.
— Eu sei — respondeu Tao, sentando-se ao lado do pai. — Mas não podemos simplesmente entregar a Pérola. Você sabe o que ela significa. Não é só um objeto. É um símbolo do que somos. E Feng nunca vai parar enquanto não conseguir tudo o que quer.
Cheng suspirou, passando a mão pelos cabelos grisalhos. — Eu só quero proteger minha família, Tao.
Quero proteger você e sua mãe. Às vezes, lutar não é a melhor escolha. Às vezes, é preciso recuar para viver outro dia.
— E o que acontece depois? — Tao perguntou, sua voz mais firme. — Se recuarmos agora, Feng vai continuar nos perseguindo. Não podemos viver com medo para sempre.
Cheng ficou em silêncio por um momento, olhando para o fogo. Ele sabia que seu filho tinha razão, mas também sabia que a luta que estavam enfrentando era muito maior do que eles.
— Só quero que você tome cuidado, Wang — disse finalmente. — Você tem o coração de um líder, mas também tem muito a perder. Não deixe que sua coragem te cegue para o que é mais importante.
Tao assentiu, mas não disse nada. Ele sabia que seu pai falava com o coração, mas não podia ignorar o que estava em jogo. Ele precisava proteger a vila, mesmo que isso significasse arriscar tudo.
Enquanto a noite caía, Tao saiu de casa para caminhar. Ele precisava de um momento para organizar seus pensamentos. A vila estava silenciosa, mas ele podia sentir a tensão no ar. As tochas ao longo das barricadas lançavam sombras dançantes, e o vento frio carregava um presságio de conflito.
Ele se dirigiu ao ponto mais alto da vila, onde podia observar o horizonte. As árvores balançavam suavemente ao longe, mas, para Tao, elas pareciam esconder algo. Ele sabia que Feng estava lá fora, esperando, planejando.
Segurando a Pérola Celestial em suas mãos, Tao fechou os olhos e respirou fundo. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que precisava estar preparado para enfrentá-lo.
"Eu não vou desistir," pensou ele. "Pela vila, pela minha família... eu lutarei."
Indíce
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