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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 34

O Peso da Promessa

A floresta ao redor de Tao era densa e silenciosa, mas não de uma forma pacífica. Era o tipo de silêncio que parecia sussurrar segredos entre as árvores, o tipo de silêncio que fazia cada som, por menor que fosse, soar como um grito. As folhas farfalhavam suavemente com o vento, e o jovem se movia devagar, tentando manter-se oculto enquanto a adrenalina ainda pulsava em suas veias.

Ele se refugiara em uma pequena clareira, parcialmente coberta por rochas e arbustos densos, longe o suficiente da vila para escapar das forças de Feng — pelo menos por enquanto. Tao sentou-se com a espada ao lado, ofegante e cansado. Suas mãos ainda tremiam ao tocar a pequena bolsa em seu peito, onde a Pérola Celestial estava escondida.

Ele não conseguia afastar o som das chamas consumindo a vila, os gritos dos moradores em pânico, e, acima de tudo, o olhar de seus pais enquanto o mandavam partir. A última imagem de seu pai, Cheng, era como uma âncora que o puxava de volta àquele momento desesperador.

"— Vá. Agora."

As palavras ecoavam em sua mente repetidamente, como um martelo batendo em sua consciência. Ele apertou a Pérola contra o peito, sentindo seu calor estranho e reconfortante. Era quase como se o artefato soubesse do peso que Tao carregava, uma força silenciosa que o conectava a algo muito maior.

Mas esse conforto era insuficiente para abafar a culpa que começava a se enraizar em seu coração.

Ele havia fugido. Ele havia deixado sua vila, seus amigos, e, pior ainda, seus pais, para trás.

“Eu devia ter ficado. Devia ter lutado...”

Essas palavras passaram por sua mente como uma faca, afiadas e impiedosas. Ele se levantou de repente, começando a andar de um lado para o outro na clareira, como se o movimento pudesse ajudá-lo a organizar os pensamentos.
 
—    Eu prometi voltar — murmurou para si mesmo, mas as palavras soaram vazias. Como ele poderia voltar? Como poderia ajudar? Ele era só um garoto com uma espada velha e uma responsabilidade que parecia grande demais para carregar.

Fechou os olhos e respirou fundo, tentando se acalmar. O silêncio ao redor era opressivo, mas também lhe dava espaço para refletir. Ele lembrou-se das palavras de seu pai:

“— Não é abandono. É a única forma de proteger a Pérola.”

Tao apertou os punhos. Ele sabia que seu pai estava certo, mas isso não tornava mais fácil aceitar. O peso da Pérola em sua bolsa parecia crescer, como se a responsabilidade que ela representava se tornasse mais real a cada minuto.

Ele se sentou novamente, desta vez apoiando as costas em uma árvore. Olhou para o céu, onde as estrelas ainda brilhavam, intocadas pelo caos que se desenrolava abaixo. Por um momento, ele sentiu um vazio esmagador. A ideia de que estava sozinho, de que talvez nunca visse sua vila ou sua família novamente, apertava seu peito.

Mas então, uma sensação familiar o envolveu. Era como um sussurro, vindo de dentro de sua própria mente.

—    Você carrega mais do que uma promessa, Tao. Você carrega o destino.

Ele não ficou surpreso ao ouvir a voz da entidade. Ela vinha a ele nos momentos mais inesperados, como uma sombra persistente que nunca o deixava em paz.

—    O destino não deveria ser tão cruel — respondeu ele, com amargura. — Meu pai confiou em mim, mas eu nem sei o que fazer.

A voz da entidade era calma, quase reconfortante, mas ainda assim carregada de uma gravidade que Tao não conseguia ignorar.

—    O destino raramente é gentil, mas ele escolhe aqueles que têm força para suportá-lo. Você foi escolhido por um motivo, mesmo que ainda não entenda qual.

Wang abaixou a cabeça, segurando a Pérola com mais força.

—    Eles precisam de mim... Minha família, a vila. Mas como eu posso ajudar se estou fugindo?
 
—    Às vezes, fugir não é covardia. Às vezes, é estratégia. Você está protegendo algo que Feng nunca pode ter. Isso é mais importante do que qualquer batalha que você pudesse lutar hoje.

Tao permaneceu em silêncio por alguns instantes, tentando absorver as palavras da entidade. Ele sabia que havia verdade nelas, mas ainda assim, o peso da culpa não o deixava.

—    E se eu falhar? — perguntou ele finalmente, sua voz um sussurro quase inaudível.

A entidade não respondeu de imediato. Quando o fez, sua voz parecia mais grave, mas também mais próxima.

—    O medo do fracasso é humano, Tao. Mas se você permitir que ele o paralise, já terá perdido.
Tao respirou fundo, tentando encontrar força nas palavras. Ele olhou para a Pérola novamente, observando o leve brilho que ela emitia. Era como se o artefato estivesse pulsando, vivo em suas mãos.

De repente, ele se lembrou das histórias que ouvira quando criança, sobre heróis que enfrentaram forças impossíveis e venceram. Eles também devem ter sentido medo, dúvida, a mesma sensação de inadequação que ele sentia agora. Mas eles encontraram uma maneira de seguir em frente.

Ele fechou os olhos novamente, tentando bloquear as lembranças da destruição da vila e focar no que precisava fazer. Cheng havia confiado nele. Mei havia confiado nele. Ele não podia deixá-los para trás, não realmente. Ele precisava honrar o sacrifício deles.

—    Eu vou proteger a Pérola — murmurou para si mesmo. — E vou voltar. De alguma forma, eu vou voltar.

Essas palavras, embora simples, foram o suficiente para acender uma centelha de determinação em seu coração. Ele sabia que o caminho seria difícil, que enfrentaria desafios que não podia prever, mas também sabia que não estava completamente sozinho. A Pérola, a entidade, e, acima de tudo, a memória de sua família, seriam sua força.

Enquanto o amanhecer começava a tingir o céu de um azul pálido, Tao se levantou. O peso da responsabilidade ainda estava lá, mas agora, ele sentia que podia carregá-lo. Ele apertou a espada em sua mão, olhando para o horizonte.
 
—    Feng não vai vencer — disse ele, sua voz firme.

E com isso, ele começou a caminhar em direção às montanhas, onde ele sabia que o próximo capítulo de sua jornada o aguardava.

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