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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 36

Refúgio na Floresta

A floresta parecia mais viva do que nunca ao redor de Tao, mas não no bom sentido. Seu corpo doía de forma insuportável; cada passo era uma luta para não ceder ao cansaço. A Pérola Celestial em sua mochila parecia pesar mais do que deveria, como se tivesse uma vontade própria, forçando Tao a seguir em frente, mesmo quando ele queria apenas desabar no chão coberto de folhas. Ele sentia a pulsação sutil dela, como um coração batendo em uníssono com o seu, mas de forma inquietante.

Quando o contorno de uma estrutura retangular apareceu entre a vegetação, Tao piscou, incerto se estava imaginando coisas. Ele limpou os olhos com as costas da mão e aproximou-se cautelosamente. As paredes de madeira cobertas de musgo e o telhado esburacado revelaram uma cabana que parecia esquecida pelo tempo. Ele circulou pelo lugar, atento a qualquer sinal de perigo.

Não havia pegadas frescas, nem marcas de uso recente. Apenas o silêncio, profundo e impenetrável.
Com a mão hesitante, empurrou a porta. O ranger alto o fez recuar por instinto, mas o interior revelou apenas poeira e abandono. Tao entrou, os olhos percorrendo o espaço. Era simples, quase austero: uma mesa de madeira, uma cadeira caída, um fogão a lenha enferrujado. Ele suspirou aliviado, mas permaneceu em alerta. A floresta era traiçoeira, e aquele refúgio temporário poderia se tornar uma armadilha.

—    Finalmente... um pouco de paz — murmurou para si mesmo, embora soubesse que a paz era uma ilusão temporária.

Depois de colocar sua mochila sobre a mesa, Tao desabou na cadeira. A madeira rangeu sobre seu peso, mas ele estava exausto demais para se preocupar. Suas mãos estavam esfoladas, suas pernas marcadas por cortes e hematomas, e um corte profundo no braço esquerdo pulsava com dor constante. Ele precisava cuidar disso antes que uma infecção o enfraquecesse ainda mais.

Levando a mão à testa suada, respirou fundo. As palavras de seu pai ecoavam em sua mente, como um sussurro que ele não conseguia ignorar: “Você é jovem, forte e... especial.”

—    Especial como, pai? — murmurou, amargo. — Se eu fosse especial, nada disso estaria acontecendo.
 
A raiva em sua voz o surpreendeu. Não contra seu pai, mas contra si mesmo. Ele sempre achou que seria apenas mais um entre os jovens da vila, um caçador ou talvez um agricultor. Nunca se viu como alguém que poderia carregar um destino tão grande. Agora, a Pérola Celestial estava com ele, e ele não podia ignorar que talvez houvesse algo dentro de si que nunca percebeu antes.

Após vasculhar a cabana, ele encontrou um pequeno baú de madeira em um canto. Dentro, havia algumas coisas úteis: um pedaço de tecido limpo, uma garrafa de água quase cheia e uma faca pequena, mas afiada. Ele usou a água para limpar seus ferimentos, cerrando os dentes ao sentir a ardência. O tecido foi rasgado em tiras improvisadas para servir como ataduras. Enquanto cuidava dos cortes, sua mente vagava para a vila. Estariam seus pais ainda vivos? Ou Feng havia cumprido sua ameaça?

Ele balançou a cabeça, tentando afastar o pensamento. Não podia se dar ao luxo de perder o foco. A Pérola precisava ser protegida, e, enquanto estivesse com ele, ainda havia esperança para sua vila e seu povo.

Com os ferimentos tratados e o cansaço vencendo seu corpo, Tao encontrou um colchão velho e mofado no canto da cabana. Não era nada confortável, mas qualquer coisa era melhor do que o chão da floresta. Ele deitou, ajustando a mochila ao seu lado, garantindo que a Pérola estivesse segura.

Por alguns minutos, ele tentou fechar os olhos, mas o sono não vinha. Sua mente estava cheia de imagens: o brilho das chamas devorando as casas da vila, os gritos de sua mãe chamando por ele, o olhar severo de Feng quando o viu escapar com a Pérola. O peso das lembranças fez seu peito apertar.

“Você não está sozinho.”

Wang sentou-se, assustado. Ele olhou ao redor da cabana, mas não viu ninguém.

—    O que foi dessa vez? — perguntou, a voz tensa.

O silêncio respondeu, mas uma presença começou a se formar em sua mente, uma sensação estranha de que algo ou alguém estava tentando falar com ele.

“Você é mais forte do que pensa, Tao.”
 
—    Pare com isso! — ele exclamou, segurando a faca com força. — Eu não sou forte! Se fosse não teria fugido feito um covarde.

“Não, não é, Tao…”

O jovem hesitou. A ideia de algo habitando sua mente o assustava, mas havia uma familiaridade na voz que ele não conseguia ignorar.

—    O que você espera de mim?

“Nada. Apenas cumprir o que foi predestinado. Você carrega a Pérola Celestial, mas também carrega um poder que ainda não compreende. Esta é a sua chance de descobrir quem você realmente é.”

Tao passou a mão pelo rosto, tentando processar tudo.

—    E se eu não quiser? E se eu apenas quiser ser... normal?

“Normalidade não é uma opção para você, Tao. Você foi escolhido. Não por acaso, mas por causa de quem você é. Agora, cabe a você aceitar isso ou fugir.”

A raiva voltou.

—    Escolhido? Eu nunca pedi por isso! Meu povo está sofrendo, minha família pode estar morta, e você fala como se eu tivesse alguma escolha!

A presença ficou em silêncio por um momento, antes de responder, mais suave:

“Eu entendo sua dor. Mas fugir da verdade não vai mudar o que você precisa fazer. Seu destino está ligado ao equilíbrio do mundo. A Pérola é apenas o começo.”

Antes que Tao pudesse responder, um som estranho ecoou pela cabana. Ele ficou tenso, segurando a faca com firmeza. Parecia vir debaixo do chão. Ele se levantou devagar, os olhos procurando a origem do som, até encontrar tábuas soltas no piso.

Com cuidado, ele puxou as tábuas, revelando um alçapão. Lá dentro, uma caixa de madeira decorada com símbolos antigos o aguardava. Ele a retirou e a colocou sobre a mesa, abrindo-a com cautela.

Dentro, encontrou um pergaminho envelhecido e uma adaga que parecia irradiar um brilho similar ao da Pérola.

A presença em sua mente voltou.
 
“Você encontrou o que precisava. Isso estava esperando por você.”

Tao desenrolou o pergaminho, mas não reconheceu a linguagem escrita ali. No entanto, uma palavra destacava-se entre os símbolos: Equilíbrio.

—    O que isso significa? — perguntou, esperando uma resposta.

“Significa que você tem um papel maior do que imagina. Use o pergaminho e a adaga.

Eles guiarão seu caminho.”

Tao pegou a adaga, sentindo a energia pulsar em sua mão, similar à da Pérola. Era leve, mas poderosa.

Ele suspirou, olhando para o amanhecer que começava a iluminar a cabana.

—    Talvez eu não entenda tudo agora... mas vou continuar. Por eles.

A presença silenciou, mas Tao sentiu algo diferente: não estava mais sozinho. Ele tinha um propósito.
Com o pergaminho e a adaga guardados, ele pegou a Pérola em suas mãos, encarando-a enquanto o primeiro raio de sol atravessava as árvores.

—    Não vou decepcioná-los — murmurou, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa.

Continua...

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