A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 17
O Fardo Revelado
A madrugada avançava lentamente, e Tao, deitado em sua cama, não conseguia dormir. O silêncio da noite era interrompido apenas pelo som suave do vento soprando através das janelas entreabertas.
No entanto, dentro dele, o verdadeiro tumulto estava acontecendo. A entidade que agora habitava sua mente sussurrava, uma presença constante que ele não podia ignorar.
“Tao...” a voz ressoou na sua mente, grave e firme. “Por quanto tempo mais você esconderá a verdade dos seus pais? Você sabe que isso é inevitável.”
Tao franziu a testa, virando-se na cama, como se pudesse escapar dos pensamentos que o assombravam. Ele sabia que, eventualmente, teria que falar com Mei e Cheng, mas o medo do desconhecido o segurava.
— Eles não entenderiam — ele sussurrou em resposta. — Não poderiam compreender o que está acontecendo comigo. Como posso contar algo assim a eles sem assustá-los?
A entidade permaneceu em silêncio por um momento, mas logo retomou com uma voz calma, quase persuasiva. “Você subestima o amor deles, Tao. Sua mãe e seu pai te amam mais do que qualquer outra coisa neste mundo. Eles sempre quiseram seu bem, e saber a verdade não mudará isso. Você não precisa temer o julgamento deles.”
Tao suspirou, sentindo o peso da verdade nas palavras da entidade. Havia uma parte dele que sabia que esconder isso era uma bomba-relógio. Mas, ao mesmo tempo, admitir que uma entidade poderosa e desconhecida agora fazia parte de sua existência... isso poderia ser demais para eles.
“Acredite em mim, Tao,” a entidade insistiu, sua voz suave e envolvente. “Você está no controle. E eles perceberão isso. Eles verão que você ainda é o mesmo filho de antes. O laço que os une é mais forte do que qualquer poder sobrenatural.”
— Você fala como se soubesse o que é ter uma família — Tao retrucou, um toque de ironia em sua voz.
A entidade ficou em silêncio por um momento, como se refletisse sobre as palavras de Tao. “Eu posso não ter tido uma família como a sua, mas entendo os laços que unem as pessoas. E o medo que você sente agora, Wang, não deve definir suas ações. Sua mãe e seu pai merecem a verdade. Quanto mais você adiar, mais difícil será.”
Tao ficou olhando para o teto, os olhos vidrados enquanto processava o que acabara de ouvir. Parte de si relutava em aceitar que a entidade estivesse certa. Mas, no fundo, ele sabia que precisava ser honesto. Não podia carregar aquele segredo sozinho por mais tempo.
— Talvez você tenha razão... — murmurou, sentindo-se exausto. — Eu vou falar com eles... amanhã.
A entidade permaneceu em silêncio, como se soubesse que suas palavras tinham sido ouvidas. Tao fechou os olhos, tentando acalmar a mente. A decisão havia sido tomada, e o peso do dia seguinte o aguardava.
***
Na manhã seguinte, o sol nascera suavemente no horizonte, lançando seus primeiros raios dourados sobre a vila. Tao acordou com a luz entrando pela janela, o coração batendo um pouco mais rápido que o normal. O pensamento da conversa que teria com seus pais o deixava ansioso, mas ele sabia que não podia voltar atrás.
Ele desceu as escadas e encontrou Mei na cozinha, preparando o café da manhã. O cheiro de pão recém-assado e chá de ervas perfumava o ambiente, trazendo uma sensação momentânea de conforto. Mei sorriu ao ver o filho, mas logo seu olhar se tornou preocupado ao notar sua expressão séria.
— Bom dia, meu querido — ela disse suavemente, enquanto colocava a chaleira no fogão. — Dormiu bem?
— Não muito, mãe — Tao admitiu, tentando encontrar as palavras para o que viria a seguir. — Na verdade, preciso conversar com a senhora sobre algo... algo importante.
Mei parou o que estava fazendo, voltando toda a sua atenção para o filho. Seu instinto materno sabia que algo estava errado. Ela puxou uma cadeira e se sentou à mesa, fazendo um gesto para que ele se sentasse ao lado.
— Claro, filho. O que está acontecendo?
Tao respirou fundo, sentindo a pressão no peito crescer. Ele olhou para os olhos gentis de sua mãe, buscando coragem para falar. A entidade estava quieta em sua mente, como se soubesse que aquele era um momento que Tao precisava enfrentar por si só.
— Lembra da viagem que fiz à caverna com Shen? — ele começou, a voz hesitante. — Bom, nós encontramos algo lá... algo que eu não esperava. Uma... entidade, um espírito antigo, estava selado lá dentro.
Mei franziu a testa, preocupada, mas não interrompeu, permitindo que Tao continuasse.
— Aconteceu tudo muito rápido — ele explicou, seu coração acelerando. — A entidade... ela se ligou a mim. Agora, ela está aqui, dentro de mim, como se fosse parte de mim. Eu posso ouvi-la, sentir sua presença.
Os olhos de Mei se arregalaram, e ela levou uma das mãos à boca, tentando processar o que seu filho estava dizendo. Havia uma mistura de choque e preocupação em seu rosto, mas ela se manteve em silêncio, deixando-o terminar.
— Sei que isso soa assustador — Tao continuou rapidamente, tentando acalmá-la. — Mas, mãe, eu estou no controle. Não se preocupe, não vou me deixar ser dominado. É por isso que estou te contando isso agora, porque confio na senhora . E preciso que confie em mim também.
Mei piscou, tentando encontrar as palavras certas para responder. Seu coração estava acelerado, mas ela sabia que seu filho não mentiria sobre algo tão sério. Havia medo em seu coração, sim, mas também havia amor e confiança no filho que criara.
— Tao... — ela começou, a voz trêmula. — Eu... não sei o que dizer. Isso é... é muita coisa para processar. — Ela respirou fundo, olhando nos olhos dele. — Você... tem certeza de que está no controle? E essa... entidade, ela é perigosa?
— Sim, estou no controle — Tao afirmou, com mais confiança desta vez. — A entidade está lá, mas ela não tem poder sobre mim. Eu a mantenho em cheque. E, por enquanto, tudo está bem.
Mei ficou em silêncio por mais um momento, seus olhos fixos no rosto do filho, buscando sinais de quem ele era. Finalmente, ela suspirou e se inclinou, segurando a mão de Tao com firmeza.
— Eu confio em você, meu querido. — A voz dela era suave, mas determinada. — Sei que você não faria nada que colocasse sua família em perigo. Se você diz que está no controle, então acredito em você.
Tao sentiu uma onda de alívio percorrer seu corpo. A aceitação de sua mãe era algo que ele temia não conseguir, mas as palavras dela trouxeram uma calma que ele não esperava.
— Obrigado, mãe — ele sussurrou, apertando sua mão de volta. — Eu prometo que ficarei bem. Só preciso que vocês confiem em mim durante esse processo.
— Vamos enfrentar isso juntos, Tao — Mei disse, o amor materno brilhando em seus olhos. — Você é nosso filho. E não importa o que aconteça, sempre estaremos ao seu lado.
Tao sorriu, uma pequena chama de esperança crescendo dentro dele.
A entidade permaneceu em silêncio, como se também soubesse que aquele era um momento de triunfo para o jovem guerreiro.
Enquanto o dia avançava, Tao se sentiu mais leve. A primeira parte de sua jornada — a de aceitar a presença da entidade e contar a verdade para sua mãe — estava completa. Ainda havia muitos desafios à frente, mas ele sabia que, com o apoio de sua família e amigos, poderia enfrentá-los com coragem.
E embora a entidade fosse um poder antigo e misterioso, Tao não estava sozinho. Mei havia dito a ele o que ele precisava ouvir: que o amor e a confiança eram mais fortes do que qualquer escuridão.
Indíce
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