A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 30
Os Primeiros Movimentos
O amanhecer chegou envolto em névoa, cobrindo a vila Liang com um manto de incerteza. As tochas que haviam queimado durante a noite ainda lançavam suas últimas chamas tímidas, enquanto os moradores começavam a sair de suas casas com cautela. Algo estava no ar — uma sensação de inquietação que parecia quase palpável. Tao, cansado de uma noite mal dormida, estava sentado próximo à barricada principal, segurando sua velha espada enquanto observava o horizonte.
Os últimos dias haviam sido um turbilhão. A ameaça de Feng pairava sobre a vila como uma sombra, e agora até os mais céticos entre os moradores começavam a sentir o peso da situação. Tao sabia que o tempo estava se esgotando. Ele não era o único que pressentia o que estava por vir. A guarda da vila, composta por homens simples com pouco treinamento militar, começava a se mobilizar. Boatos de tropas se movendo nas florestas ao redor haviam chegado aos ouvidos dos anciões, e agora, o medo começava a se espalhar como fogo.
— Wang! — chamou Rohan, um dos jovens da vila que havia se voluntariado para ajudar na vigilância. Ele corria até Tao, ofegante. — Venha rápido. A guarda avistou algo ao longe.
Tao se levantou imediatamente, os dedos apertando o cabo da espada. Ele seguiu Rohan em direção à torre improvisada que os moradores haviam erguido na entrada da vila. Quando chegaram, um pequeno grupo de homens já estava reunido, incluindo alguns membros da guarda. Todos olhavam fixamente para o horizonte.
— O que foi? — perguntou Tao, tentando ver o que eles observavam.
Um dos guardas mais velhos, Haran, apontou com o dedo para o norte. — Lá. Entre as árvores. Movimento constante.
Tao apertou os olhos, tentando discernir algo entre a neblina que começava a se dissipar. Por um momento, viu apenas as copas das árvores balançando suavemente ao vento. Mas então, ele também percebeu: sombras. Sombras que se moviam de forma coordenada. Elas eram quase imperceptíveis, mas estavam lá. Ele não tinha dúvidas.
— Tropas — sussurrou Tao, sentindo o estômago revirar. — Eles estão se aproximando.
— Ainda não atacaram — comentou Haran, sua voz grave. — Talvez estejam avaliando a situação ou esperando ordens. Mas não podemos ignorar isso.
Um silêncio pesado recaiu sobre o grupo. Wang olhou ao redor, observando os rostos preocupados dos homens e jovens da vila. Eles não eram soldados, e a ideia de enfrentar um exército os aterrorizava. Ele sabia que precisava dizer algo, mas suas próprias dúvidas pesavam sobre sua mente.
Ele não era um líder — ou, pelo menos, não achava que era. No entanto, a responsabilidade parecia cair sobre ele mais uma vez.
— Precisamos reforçar a vigilância — disse finalmente, tentando soar confiante. — Não sabemos quando vão atacar, mas se estivermos preparados, teremos mais chances de resistir. Vamos organizar turnos. Ninguém pode abaixar a guarda.
Haran assentiu, embora seu rosto estivesse marcado pela preocupação. — Concordo.
Não podemos relaxar. Vou mobilizar os homens para reforçar as barricadas.
Enquanto Haran e os outros guardas se moviam para organizar os preparativos, Tao se afastou um pouco, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Ele sabia que aquilo era só o começo. Feng estava testando a vila, sondando suas defesas antes do ataque. A pergunta que pairava em sua mente era: estavam prontos para o que estava por vir?
Mais tarde, Tao encontrou Rohan e outros jovens da vila em um ponto estratégico próximo às barricadas. Eles haviam se reunido em silêncio, cada um armado com o que podia: lanças improvisadas, arcos velhos e espadas enferrujadas. Não eram guerreiros, mas a determinação em seus olhos era evidente.
— Estamos realmente preparados para isso? — perguntou Rohan, quebrando o silêncio. Ele segurava uma lança rudimentar, suas mãos trêmulas.
Tao olhou para o amigo e viu a incerteza em seu rosto. Ele entendia o que Rohan sentia. Afinal, ele mesmo estava assustado. Mas sabia que não podia demonstrar fraqueza. Não agora.
— Ninguém está realmente preparado para algo assim, Rohan — respondeu Tao, tentando manter a voz firme. — Mas não temos escolha. Se não lutarmos, ninguém mais o fará. Feng não vai parar até conseguir o que quer.
— Você acha que ele vai atacar hoje? — perguntou outro jovem, um rapaz chamado Liran, que mal tinha idade para segurar um arco.
Wang hesitou antes de responder. Ele olhou novamente para a floresta, para as sombras que agora pareciam ainda mais ameaçadoras.
— Não sei — admitiu. — Mas precisamos estar prontos, seja hoje, amanhã ou daqui a uma semana.
Não podemos baixar a guarda.
Os jovens assentiram, embora o medo ainda fosse visível em seus rostos. Tao sabia que eles estavam fazendo o melhor que podiam, mas também sabia que a batalha que estava por vir exigiria mais do que coragem. Eles precisariam de estratégia, de união — e talvez de um milagre.
Quando a noite caiu, a vila ficou envolta em um silêncio ainda mais profundo. As tochas ao longo das barricadas lançavam sombras tremulantes, e a tensão no ar era quase sufocante. Tao estava de vigia com Rohan e Liran, posicionados em um ponto elevado que lhes dava uma visão clara dos arredores.
Os três jovens permaneciam em silêncio, atentos a qualquer movimento. O som do vento balançando as árvores era o único ruído que preenchia a noite, mas para Wang, até mesmo aquele som parecia ameaçador.
— Tao — sussurrou Rohan, quebrando o silêncio. — Você realmente acredita que podemos vencer? Contra Feng e seu exército?
Tao demorou um momento para responder. Ele olhou para Rohan, depois para Liran, que também aguardava sua resposta. Ele sabia que precisava ser honesto.
— Eu não sei — admitiu, sua voz baixa. — Mas não é só sobre vencer ou perder. É sobre lutar pelo que importa. Pela vila, pelas nossas famílias. Não podemos simplesmente entregar tudo a ele sem resistência. Isso não é viver, Rohan. Isso é desistir.
Rohan assentiu lentamente, suas mãos ainda tremendo enquanto segurava a lança. Tao podia ver que seus amigos estavam assustados, mas também podia sentir a centelha de determinação crescendo dentro deles. Era isso que ele precisava: que eles acreditassem, mesmo que apenas um pouco, que tinham uma chance.
De repente, um som distante interrompeu seus pensamentos. Era baixo, quase imperceptível, mas suficiente para colocar todos em alerta. Tao ergueu a mão, pedindo silêncio, enquanto seus olhos procuravam pela fonte do som.
— Vocês ouviram isso? — sussurrou ele.
Rohan e Liran assentiram, suas expressões ficando ainda mais tensas.
Mais uma vez, o som ecoou. Era o barulho de passos. Muitos passos. Tao sentiu o coração acelerar.
Ele se inclinou para frente, tentando enxergar melhor através da escuridão.
Foi então que ele os viu.
Figuras emergindo das sombras da floresta, movendo-se como espectros entre as árvores. Elas ainda estavam longe, mas o simples fato de vê-las fez o sangue de Tao gelar. Não eram apenas homens.
Eram algo mais.
— Eles estão vindo... — sussurrou Liran, sua voz cheia de pavor.
Tao apertou o cabo de sua espada, seus olhos fixos nos inimigos à distância. Ele sabia que aquela noite seria decisiva. Feng havia feito o primeiro movimento, e agora era a vez de Tao e da vila decidirem como responder.
— Toquem o alarme — disse ele, sua voz firme apesar do medo que sentia. — Eles chegaram.
Rohan correu para soar o sino que alertaria a vila, enquanto Tao permanecia em sua posição, observando os inimigos que se aproximavam. Ele sabia que a batalha estava prestes a começar. E, embora estivesse assustado, havia uma certeza em seu coração: ele não recuaria. Ele lutaria, não importa o custo.
Indíce
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