A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 25
O Cerco das Sombras
A névoa rastejava pela floresta ao redor da vila Liang, formando figuras quase espectrais entre as árvores. Tao estava de pé em um campo isolado, próximo ao antigo carvalho, onde tudo parecia mais silencioso que o normal. Ali, ele podia sentir a presença da entidade, como um sussurro na parte mais profunda de sua mente. Seus olhos estavam fechados enquanto ele concentrava sua atenção naquele laço invisível entre ele e a presença antiga.
"Eles estão vindo," a entidade sussurrou, a voz fria como gelo. "As sombras estão se reunindo e o mal se aproxima de suas terras. A vila está em perigo, e os mortais não têm ideia da magnitude dessa ameaça."
— Eu sei — murmurou Tao, sua voz quase perdida no vento. — Mas os anciões... Eles não me escutam. Não acreditam em mim.
"Eles nunca acreditam, até que seja tarde demais. Se você deseja salvar seu povo, precisa agir agora.
O inimigo não é apenas carne e osso. O mal está nas trevas que se espreitam nas profundezas do coração humano. E você, Tao, é o único que pode ver."
Tao sentiu um frio percorrer sua espinha. Sabia que a entidade falava a verdade. Ele conseguia sentir o perigo crescente como uma névoa se espalhando pela floresta. Os saqueadores eram apenas uma fração da ameaça que estava por vir. A escuridão que ele pressentia não era comum — era algo muito mais antigo e muito mais perigoso.
— O que devo fazer? — ele perguntou, sua voz saindo com dificuldade.
"Acorde-os," disse a entidade. "Seja a chama que os alertará. Não espere que eles compreendam completamente. Quando o mal finalmente bater às portas, você precisará estar preparado para enfrentá-lo, mesmo que esteja sozinho."
Tao abriu os olhos, o brilho pálido da lua surgindo por entre as folhas das árvores. Ele sabia o que tinha que fazer. Não havia mais tempo a perder.
"Eles estão chegando," a entidade repetiu antes de desaparecer na sua mente, deixando Wang sozinho com seus pensamentos.
Os limites estavam envoltos em escuridão, as tochas piscando fracamente ao longo das barricadas recém-construídas. A lua, alta no céu, mal iluminava o denso horizonte da floresta. Era ali, nas sombras entre as árvores, que algo o espreitava.
Tao, observando em silêncio do ponto mais alto das defesas, podia sentir o ar pesado, carregado de uma ameaça iminente. Seus olhos percorriam a linha das árvores e, por um momento, ele teve certeza de ter visto um movimento rápido, quase imperceptível. Figuras sombrias. Elas estavam lá, escondidas entre as sombras das árvores, observando... esperando.
O jovem cerrou os punhos. A sensação de perigo que ele vinha sentindo há dias finalmente estava se materializando. Ele sabia que os saqueadores não eram o único problema. Havia algo muito pior à espreita. Algo que até os próprios saqueadores pareciam temer. E, entre eles, os espiões e o misterioso líder inimigo cujas intenções ainda eram desconhecidas, estavam cada vez mais ativos.
Tao desviou os olhos de uma figura que desapareceu rapidamente na escuridão, seu coração batendo forte. Eles estavam se preparando. Ele tinha que avisar os anciões. Não havia mais tempo a perder.
— Não posso esperar mais — murmurou para si mesmo, antes de descer apressadamente das barricadas e correr em direção à casa do conselho dos anciões.
Ao chegar ao centro da vila, Tao sentiu o peso de seu próprio medo misturado ao ambiente pesado da noite. A comunidade estava estranhamente silenciosa, com poucos moradores à vista. Todos estavam em suas casas, esperando o pior. Eles podiam não ter a mesma percepção que Tao, mas o medo se espalhava, invisível, entre os moradores. A luz das janelas piscava, como se refletisse a incerteza nos corações de cada um.
Tao entrou na sala de reuniões dos anciões sem pedir permissão, suas botas batendo no chão de madeira com pressa. Lá dentro, três dos anciões estavam sentados, conversando em vozes baixas ao redor de uma pequena fogueira.
— Precisamos conversar agora! — disse Tao, sua voz alta ecoando na pequena sala. — A vila está em perigo. Eles estão aqui, eu os vi nos limites da floresta. Espiões, estão cercando a vila!
Os anciões levantaram os olhos para ele, suas expressões impassíveis. O mais velho entre eles, Ancião Boron, balançou a cabeça com um suspiro exasperado.
— Tao, quantas vezes vamos ter essa conversa? — disse Boron, sua voz carregada de cansaço. — Saqueadores podem sim estar rondando, mas estamos preparados. Colocamos defesas. Não há necessidade de pânico.
— Não são só saqueadores — Tao insistiu, avançando um passo. — Há algo mais. Uma força muito maior. Alguém está por trás disso, eu sei. E esses espiões... eles não estão apenas observando, estão se preparando para atacar!
O segundo ancião, Eldar, ergueu uma sobrancelha e cruzou os braços.
— Essa figura misteriosa de quem você tanto fala. Não temos qualquer prova de que ele existe, rapaz! — Eldar deu uma risada cínica. — Não podemos nos preocupar com boatos e lendas.
Tao sentiu a frustração crescer dentro dele. Eles estavam se recusando a enxergar o que ele havia visto com seus próprios olhos. A segurança da vila estava em jogo, e eles preferiam ignorá-lo.
— Eu sei o que vi! — Tao rebateu, sua voz elevada com desespero. — Não são lendas.
Eles estão tramando algo grande, algo que pode destruir a vila se não agirmos agora!
O terceiro ancião, Merith, que permanecera em silêncio até agora, falou de forma mais branda, mas não menos condescendente.
— Tao, você é jovem, impetuoso. Não podemos agir com base em medo e suposições. Estamos nos preparando para os saqueadores e nada mais. Essa sua obsessão por espiões que nos vigiam só vai causar pânico.
Wang sentiu uma onda de raiva e impotência. Era como falar com uma parede. Eles não entendiam, ou pior, se recusavam a entender. Seu coração pulsava com a certeza de que algo terrível estava prestes a acontecer, mas estava sozinho em sua convicção.
— Vocês estão cegos — disse ele entre dentes cerrados. — Quando a vila estiver cercada e for tarde demais, vocês vão lembrar dessas palavras.
Boron deu um longo suspiro e fez um gesto com a mão, dispensando-o.
— Já chega por hoje, Tao. Vá para casa e descanse. Amanhã teremos muito trabalho nas barricadas.
Tao encarou o ancião por um momento, o desejo de continuar discutindo queimando em seu peito. Mas sabia que não adiantaria. Com os punhos cerrados, ele se virou e saiu, sua mente fervilhando de frustração. Eles não o ouviriam. Eles não acreditariam até que fosse tarde demais.
Lá fora, a noite estava mais fria, o vento assobiando pelas ruas vazias. Tao ergueu os olhos para a floresta à distância, sentindo o peso das sombras que espreitavam entre as árvores. Ele sabia que havia algo muito mais perigoso do que saqueadores se aproximando. E estava decidido a fazer o que fosse necessário para proteger a vila — mesmo que tivesse que enfrentar essa ameaça sozinho.
Indíce
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