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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 33

O Sacrifício de Cheng

A escuridão da madrugada era interrompida pelo brilho alaranjado das chamas que consumiam as casas periféricas da vila Liang. O céu, antes salpicado de estrelas, agora era encoberto por uma espessa nuvem de fumaça e cinzas. O cheiro de madeira queimada e caos enchia o ar. Cada explosão de fogo era como o rugido de uma fera faminta, avançando implacavelmente sobre o que antes era um refúgio tranquilo.

Tao acordou sobressaltado, com os gritos dos moradores ecoando pelas ruas. O som de alarmes improvisados e passos apressados invadiam sua mente enquanto ele se levantava às pressas. Ao abrir a janela de seu quarto, o que viu fez seu coração acelerar. As primeiras casas da vila estavam em chamas, suas estruturas desmoronando como se fossem feitas de papel. As labaredas iluminavam o horizonte de vermelho e dourado, um prenúncio de destruição iminente.

Batidas frenéticas na porta da frente interromperam seus pensamentos. A voz de Joren soava desesperada:

—    Tao! Eles chegaram! As forças de Feng estão aqui!

Tao não perdeu tempo. Vestiu-se rapidamente, pegou sua velha espada — a única arma que tinha à disposição — e correu para fora. Ao abrir a porta, encontrou Joren e outros jovens guerreiros da vila correndo em direção às barricadas. O caos já havia se instalado.

Crianças choravam, agarradas aos braços de suas mães. Homens e mulheres armados com lanças e arcos improvisados tentavam organizar alguma resistência, mas o medo era evidente em seus rostos. Moradores corriam em todas as direções, alguns carregando baldes de água para tentar apagar as chamas, outros fugindo desesperadamente para longe da destruição.

O céu estava coberto por uma espiral de fumaça que dançava ao ritmo das chamas. Ao longe, Tao pôde ver a silhueta das forças inimigas se movendo pela floresta, suas armaduras brilhando à luz do fogo. Eles eram muitos, marchando como uma onda sombria em direção à vila.

— Precisamos ajudar na linha de frente — disse Tao, sua voz firme apesar do medo que sentia.
 
Joren balançou a cabeça, o rosto pálido de apreensão.

—    Eles são muitos, Wang. E têm armas que nunca vimos antes. Isso não é uma batalha, é um massacre!

Antes que Tao pudesse responder, sentiu uma mão firme em seu ombro. Ele se virou para encontrar o olhar grave de seu pai, Cheng. Havia algo em seus olhos que Tao nunca tinha visto antes: uma mistura de desespero e determinação.

—    Venha comigo — disse Cheng, sua voz baixa, mas carregada de urgência.

Tao hesitou. Ele queria lutar, queria proteger a vila, mas o olhar de seu pai o fez perceber que havia algo mais em jogo. Relutante, ele seguiu Cheng para dentro de casa.

Ao entrar, viu sua mãe, Mei, ajoelhada no chão, arrumando provisões em uma pequena mochila de couro. O rosto dela estava molhado de lágrimas, mas suas mãos se moviam com firmeza.

—    O que está acontecendo? — perguntou Tao, sua voz carregada de inquietação.

Cheng fechou a porta atrás de si e se aproximou, segurando os ombros do filho com
força.

—    A vila está perdida, Tao — disse ele, sua voz tremendo levemente. — Não temos forças para enfrentá-los. Feng não veio apenas para destruir; ele veio pela Pérola.

As palavras de seu pai atingiram Wang como um golpe. Ele sabia que a situação era grave, mas ouvir isso tornou tudo ainda mais real.

—    Então vamos lutar! — respondeu Tao, sua voz elevada e cheia de indignação. — Não podemos simplesmente entregar tudo. Não podemos fugir!

Cheng balançou a cabeça, seu olhar endurecido.

—    Você não entende, filho. Eles não vão parar até que consigam o que querem. E se a Pérola cair nas mãos de Feng, será o fim não apenas de nossa vila, mas de todas as terras ao redor.

Tao olhou para sua mãe, que o encarava com olhos cheios de lágrimas. Ele sabia o que seus pais estavam pedindo, mas não queria acreditar.

—    Vocês querem que eu fuja? — perguntou ele, incrédulo. — Que eu abandone vocês?
 
—    Não é abandono — disse Cheng, sua voz firme, mas cheia de emoção. — É a única forma de proteger a Pérola. Você é jovem, forte e... especial. Sabemos que você tem algo dentro de si, algo que o torna diferente. Você pode levá-la para longe, para um lugar onde Feng nunca a encontrará.

—    E o que acontece com vocês? Com a vila? — gritou Tao, sentindo a raiva e o desespero borbulharem dentro dele.

Mei se aproximou, colocando as mãos no rosto do filho.

—    Nós faremos o que pudermos para resistir — disse ela suavemente, seus olhos fixos nos de Tao.

— Mas você precisa sobreviver. Precisa cumprir seu destino.
Cheng tirou a Pérola de uma pequena bolsa de couro presa à cintura e a colocou nas mãos de Tao. O artefato brilhava suavemente, emanando uma energia quente e pulsante. Tao sentiu o peso do mundo em suas mãos, literalmente e figurativamente.

—    Leve-a para as montanhas — instruiu Cheng, com firmeza. — Há cavernas antigas onde você pode escondê-la. E quando tudo estiver mais seguro, você saberá o que fazer.

Tao olhou para a Pérola, a luz dela refletindo em seus olhos. Ele sentia a energia dela pulsar, como se tivesse vida própria.

—    Eu não posso deixar vocês... — murmurou, sua voz falhando.

—    Você pode — respondeu Cheng, segurando o ombro de Tao com força. — E você vai. Porque se ficar, Feng vencerá.

Do lado de fora, o som de explosões e gritos se intensificava. Wang sabia que o tempo estava se esgotando. Ele engoliu o nó em sua garganta e olhou para seus pais.

—    Eu vou voltar por vocês — prometeu, segurando a Pérola com força.

Mei o abraçou rapidamente, suas lágrimas molhando o ombro do filho. Cheng colocou uma mão firme no ombro de Tao, apertando-o uma última vez.

—    Vá. Agora.

Tao saiu pela porta dos fundos, seu coração pesado e sua mente em turbilhão. Ele correu pelas ruas escuras, desviando de moradores em pânico e evitando os guardas inimigos que já haviam invadido parte da vila. As chamas consumiam as casas ao seu redor, e o cheiro de destruição enchia o ar.

Quando chegou à borda da floresta, parou por um momento para olhar para trás. A vila estava em chamas, o céu iluminado por um vermelho intenso. Ele viu figuras correndo, lutando, tentando salvar o que podiam. Seu coração doía ao perceber que estava deixando tudo para trás.

—    Eu vou voltar — sussurrou para si mesmo, antes de desaparecer entre as árvores.

Enquanto corria em direção às montanhas, o som da batalha ecoava atrás dele. Tao sabia que estava carregando o destino de sua vila — e talvez de todo o reino — nas mãos. Embora o medo o consumisse, havia uma centelha de determinação em seu coração. Ele não deixaria que o sacrifício de seus pais fosse em vão.

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