A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 26
O Ultimato de Lorde Feng
A manhã na vila Liang parecia diferente. O ar estava carregado de uma tensão que sufocava cada canto, como uma névoa invisível e opressora. As janelas das casas estavam fechadas, e poucos moradores se atreviam a pisar do lado de fora, lançando olhares furtivos em direção aos portões. Era como se um presságio sombrio pairasse sobre todos, silenciando até mesmo os pássaros que costumavam cantar ao amanhecer.
Do alto de um ponto rochoso na vila, Tao segurava a Pérola Celestial em suas mãos, sentindo seu leve pulsar, quase como se tivesse uma vida própria. Ele a observava, sentindo o peso da responsabilidade que o objeto trazia consigo. A advertência da noite anterior ainda ecoava em sua mente, misturada com um sentimento de revolta e frustração.
— Eu não vou permitir que isso aconteça — murmurou Tao, seus dedos apertando a Pérola com firmeza.
Quando avistou um cavaleiro se aproximando pela estrada, montado em um corcel que levantava poeira a cada trote, seu instinto foi imediato. Tao desceu a encosta rapidamente, seus passos rápidos e decididos, até chegar à entrada da vila. Ele observou enquanto o cavaleiro desmontava com pressa, os ombros caídos de exaustão, claramente vindo de uma longa jornada. O homem atravessou a praça em passos largos, indo direto para o centro da vila, onde os anciões já o aguardavam.
Os moradores da vila se reuniram ao redor, formando um círculo de olhos curiosos e apreensivos. No meio da praça, Ancião Boron desdobrou o pergaminho entregue pelo cavaleiro, o selo do dragão marcando a carta com um tom sinistro. Ele pigarreou e, erguendo a voz, leu o conteúdo para todos ouvirem.
— “Aos habitantes da vila Liang”, — começou ele, sua voz grave e firme, mas não escondendo o desconforto. — “Eu, Lorde Feng, guardião das terras do leste, exijo a entrega imediata da Pérola Celestial. Se recusarem a atender a este pedido, saibam que vossa vila será reduzida a cinzas pela minha ira. Têm até o nascer da lua cheia para cumprir o que vos foi ordenado.”
Um murmúrio de temor percorreu a multidão. Tao sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele já conhecia o poder da Pérola e sabia o quão perigoso seria deixá-la nas mãos de alguém como Feng.
As implicações dessa exigência se tornavam ainda mais claras em sua mente. "Ele quer usar a Pérola para algo muito maior... algo que não podemos sequer imaginar."
Eldar, um dos anciões, tentou conter o medo em sua expressão, mas sua voz entregava o tremor de suas palavras.
— Não pode ser. Lorde Feng está apenas nos ameaçando. Ele sabe que nossa vila é pacífica e que não temos forças para resistir a ele. Talvez ele só queira que tenhamos medo.
— Eldar, sabemos que Feng não é homem de blefes — respondeu Boron, franzindo a testa com preocupação. — Se ele disse que vai atacar, ele está disposto a isso. E nós sabemos que ele tem recursos para nos destruir se desejar.
— E não é apenas isso. — A voz do cavaleiro interrompeu o silêncio. Ele observou os anciões com um semblante sério e resignado. — Lorde Feng não aceita recusas. Se a Pérola não lhe for entregue, ele virá e trará destruição. Ele deixou claro que não haverá misericórdia para a vila Liang.
Essas palavras caíram sobre os habitantes como pedras pesadas, criando uma sensação de desespero no ar. Tao, à distância, manteve o olhar fixo nos anciões e no cavaleiro, a mente fervilhando. Eles estavam diante de uma escolha terrível: entregar a Pérola e fortalecer um tirano ou resistir e arriscar a vida de todos.
Após o aviso, o cavaleiro montou em seu cavalo, partindo rapidamente e deixando para trás um silêncio mortal. Tao ainda observava a reunião dos anciões, notando a apreensão e o desespero nas faces de todos.
Com o coração acelerado, ele segurou a Pérola com mais força, sentindo o pulsar misterioso que parecia transmitir uma energia desconhecida. Movido por uma necessidade de clareza, ele se afastou da praça em direção a um local especial: a clareira com o grande carvalho, onde costumava encontrar a calma necessária para pensar. Ali, ele tinha o costume de conversar com a entidade que o guiava, e agora precisava de qualquer orientação que pudesse ajudá-lo.
Assim que chegou, respirou fundo, fechou os olhos, e segurou a Pérola entre as mãos.
Ele tentou se concentrar, buscando a presença familiar que sempre lhe oferecia conselhos.
— Preciso de respostas — sussurrou. — Por que Feng quer a Pérola com tanta intensidade? E como posso proteger todos sem entregá-la?
Um murmúrio suave, como uma brisa, começou a preencher sua mente, uma voz distante mas clara, conhecida apenas por ele.
— Ele… busca… poder…
Tao abriu os olhos, o olhar sombrio.
— Poder? Ele acha que pode controlar o mundo com a Pérola?
— A Pérola… carrega… um segredo antigo… e com ela, ele pode abrir os portais…
As palavras foram como uma faísca de revelação. Feng não queria a Pérola apenas pelo poder, mas por algo muito mais profundo e perigoso: a habilidade de abrir portais para outras dimensões, outros mundos. Se ele controlasse tal poder, não haveria limites para a extensão de seu domínio.
Com a determinação crescendo dentro de si, Tao retornou à praça, onde os anciões ainda discutiam.
Parando à frente de todos, ele ergueu a voz com firmeza, atraindo os olhares dos presentes.
— Nós não vamos entregar nada a Feng — declarou, o tom de sua voz reverberando pela praça, carregado de certeza.
Os anciões e moradores se viraram, surpresos. Boron deu um passo à frente, um misto de cautela e aprovação no olhar.
— E o que sugere que façamos, Tao? Feng é poderoso e tem um exército. Nossa vila não possui guerreiros suficientes para enfrentá-lo.
Wang respirou fundo, sentindo a pressão do olhar de todos sobre ele, mas não recuou.
— Entregar a Pérola só aumentaria a força e a ambição de Feng. Ele não se contentará com isso.
Precisamos nos preparar para defendê-la. E, mais do que isso, devemos procurar uma forma de ocultá-la, para que mesmo ele não consiga localizá-la.
Um murmúrio de concordância ecoou entre os moradores. Alguns assentiram, outros expressaram receio, mas ninguém parecia disposto a se render sem lutar. A vila Liang era pacífica, mas todos sabiam que não poderiam simplesmente ceder algo tão valioso a um tirano.
— E como pretende fazer isso, jovem? — questionou Eldar, cruzando os braços, cético, mas atento.
— Primeiro, vamos organizar defesas. Podemos reforçar os limites da vila e treinar quem estiver disposto a lutar. Além disso, precisamos entender mais sobre os segredos da Pérola. Acredito que ela possui formas de proteção que ainda não conhecemos, e talvez possamos usá-las.
Boron suspirou, passando a mão pelo rosto cansado, mas assentiu, um brilho de esperança surgindo em seu olhar.
— Amanhã, ao amanhecer, todos que estiverem dispostos a proteger a vila devem se reunir no templo antigo. Lá, compartilharei o que sei sobre a origem da Pérola e os possíveis meios de proteção que ela pode nos oferecer.
Enquanto Boron falava, Tao sentiu a determinação crescer dentro de si. Ele estava disposto a lutar, e não descansaria até encontrar uma forma de proteger a vila — mesmo que isso significasse enfrentar Feng sozinho.
Observando os moradores se dispersarem, ele apertou a Pérola em sua mão, prometendo a si mesmo que faria o que fosse necessário. A lua cheia estava próxima, e Feng não tardaria a agir. Tao sabia que o destino da vila Liang estava agora sobre seus ombros e que a escolha que faria nos próximos dias poderia mudar o curso de suas vidas para sempre.
Indíce
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