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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 29

A Lâmina na Escuridão

A noite estava particularmente fria, e o vento, que passava entre as árvores ao redor da vila, trazia um lamento contínuo, como se a própria floresta estivesse alertando sobre o que estava por vir. Tao não conseguia encontrar descanso. Sua mente estava cheia de preocupações, dúvidas e uma determinação silenciosa que o puxava para fora da cama. Ele sabia que a guerra poderia chegar a qualquer momento. E, embora muitos acreditassem que bastaria negociar ou ceder às demandas de

Feng, Tao entendia que isso não seria suficiente.

Vestindo uma túnica simples, ele se levantou e foi até o depósito da casa, onde havia descoberto uma espada velha entre os pertences de seu pai. Cheng guardava aquela arma como uma lembrança de tempos mais perigosos, mas para Tao, a lâmina agora representava algo mais. Ela era a ferramenta que o ajudaria a lutar, mesmo que ele não soubesse exatamente como.

Ao segurar o cabo gasto e sentir o peso da lâmina, um sentimento de determinação misturou-se ao medo em seu peito. A espada estava um pouco enferrujada, e seu equilíbrio não era ideal, mas o fio ainda era afiado o suficiente.

Com a espada na mão, Tao caminhou até o terreno vazio atrás da casa. A lua estava alta no céu, lançando uma luz pálida sobre a vila adormecida. O som dos grilos e do vento era quase reconfortante, mas Tao sabia que o silêncio da noite era apenas o prelúdio de uma tempestade iminente.

Ele parou no meio do terreno, respirou fundo e fechou os olhos por um momento. Tentou se concentrar, afastar os pensamentos caóticos que o atormentavam e canalizar toda a sua energia para os movimentos que estava prestes a executar.

—    Eu não posso falhar — murmurou para si mesmo, erguendo a espada. — Se eu não puder defender a vila, ninguém mais poderá.

Ele começou com movimentos simples, os mesmos que havia visto os guardas locais praticarem quando era mais jovem. A lâmina cortava o ar com um som agudo, mas seus braços estavam rígidos, e seus golpes pareciam desajeitados.

—    Equilíbrio — Tao sussurrou para si mesmo, ajustando a postura.
 
Ele tentou se mover com mais fluidez, lembrando-se de como os soldados experientes dançavam com suas espadas, cada golpe parecendo uma extensão natural de seus corpos. Mas, para Tao, tudo parecia forçado. A espada parecia pesada demais, os movimentos desajeitados. Ainda assim, ele se recusava a parar.

O cansaço começou a se acumular, mas Tao não cedeu. Ele fechou os olhos, imaginando que estava enfrentando inimigos invisíveis, figuras sombrias que emergiam da floresta para atacar a vila. Ele girou a espada e desferiu um golpe forte contra uma pilha de feno que improvisara como alvo.

—    Eu posso fazer isso — murmurou, como se precisasse convencer a si mesmo.

Mas sua mente estava em conflito. Ele pensou em seu pai, Cheng, e nas palavras ditas durante as muitas discussões que haviam tido recentemente. Cheng não queria que ele lutasse. Para seu pai, proteger a família era o único objetivo que importava. Tao, no entanto, sentia que sua responsabilidade ia além disso.

—    Eu não sou como ele — pensou, enquanto desferia outro golpe contra o feno, fazendo partículas voarem pelo ar. — Eu não posso simplesmente me esconder e esperar que o perigo passe.

A cada golpe, ele sentia a tensão nos braços aumentar. Seus músculos ardiam, mas ele continuava. A dor, para ele, era um lembrete de que estava vivo, de que ainda havia tempo para se tornar mais forte.

De repente, uma voz familiar ecoou em sua mente, interrompendo seus pensamentos.

—    Você está lutando contra sombras, Tao — disse a entidade, sua voz suave, mas carregada de um tom de julgamento.

Tao parou por um momento, baixando a espada e respirando pesadamente. Ele já estava acostumado com a presença da entidade em sua mente, mas isso não tornava suas intervenções menos irritantes.

—    Você acha que pode enfrentar Feng com essa lâmina enferrujada e movimentos desajeitados? — continuou a voz, agora com um tom quase zombeteiro.
 
—    Não preciso que você acredite em mim — retrucou Tao, segurando a espada com mais força.

Sua voz estava firme, mas havia uma nota de frustração. — Preciso apenas de tempo.

A entidade riu, um som frio e distante que ecoou pela mente de Tao.

—    Tempo? — disse ela. — O tempo é algo que você não tem. Feng não espera. Seus espiões já cercaram sua vila, e quando ele vier, sua determinação será apenas um eco em meio ao caos.

Tao cerrou os dentes. Ele sabia que a entidade tinha razão, mas não estava disposto a admitir isso.

—    Então me ajude — disse ele, olhando para a escuridão ao redor como se pudesse encarar a entidade diretamente. — Se você sabe tanto, então me mostre o que fazer.

A entidade ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando sua resposta.

—    O poder não está na espada, Tao — disse finalmente. — Está em quem a empunha. Você precisa encontrar equilíbrio, foco. Se lutar como um garoto assustado, morrerá como um garoto assustado.

Wang respirou fundo, tentando absorver as palavras. Ele sabia que a entidade estava certa, mas isso não tornava as coisas mais fáceis.

—    Equilíbrio... foco... — repetiu para si mesmo, ajustando a postura e segurando a espada com menos tensão.

Desta vez, ele tentou se mover de maneira mais controlada, buscando precisão em vez de força bruta. A lâmina cortava o ar em movimentos suaves, mas firmes, e Tao começou a sentir uma conexão maior com a arma em suas mãos.

O som dos grilos e do vento ao seu redor parecia criar uma melodia rítmica que o ajudava a encontrar concentração. Ele se perdeu nos movimentos, seus pensamentos se dissipando enquanto o instinto assumia o controle.

Por um momento, ele se sentiu diferente. Não estava apenas balançando uma espada. Ele estava lutando. Lutando para se tornar algo mais do que apenas um jovem cheio de medo.
 
—    Agora está aprendendo — a entidade sussurrou, quase satisfeita.

Tao ignorou o comentário, focando apenas nos movimentos. Ele continuou a praticar até que seus braços queimassem, até que suas pernas quase cedessem de cansaço. Quando finalmente parou, o suor escorria por seu rosto, e sua respiração era pesada, mas havia algo novo em seu olhar: determinação.

Ele olhou para a espada em suas mãos, agora um pouco mais familiar, um pouco menos pesada.

—    Não é perfeita — murmurou para si mesmo. — Mas é um começo.

Enquanto guardava a espada e voltava para casa, Tao sentiu algo diferente dentro de si. A dúvida ainda estava lá, mas agora havia algo mais. Um propósito. Ele sabia que a guerra era inevitável, mas, pela primeira vez, sentiu que poderia enfrentar o que estava por vir.

Ao chegar em casa, o silêncio da vila o envolveu. O vento ainda assobiava entre as árvores, mas, para Tao, não era mais um som de medo. Era um chamado. Um chamado para a batalha que estava por vir, e ele estava determinado a responder.

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