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A Jornada do Último Guerreiro - Livro 01

Capítulos 36

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A Jornada do Último Guerreiro Capítulo 28

Um Confronto de Vontades

A noite estava silenciosa, mas dentro da casa de Tao, o ambiente era tenso como o ar antes de uma tempestade. As tochas iluminavam o pequeno espaço, projetando sombras oscilantes nas paredes de madeira. Tao estava sentado à mesa, os braços cruzados, com a Pérola Celestial repousando diante dele, envolta em um tecido desgastado. O brilho sutil que emanava do artefato parecia intensificar a atmosfera carregada.

Cheng, seu pai, estava de pé próximo à janela, olhando para o escuro além das árvores. Seu rosto refletia preocupação e uma tristeza que Tao raramente via. Mei, sentada no outro extremo da mesa, mantinha um silêncio tenso, olhando de um para o outro, como se pudesse sentir o conflito que estava prestes a explodir.

—    Você não entende, pai — começou Tao, quebrando o silêncio com a voz carregada de frustração.

— Se entregarmos a Pérola, Feng terá o poder de destruir não apenas a vila, mas tudo ao redor. Isso não é sobre salvar apenas a nós. É sobre proteger algo maior.

Cheng se virou lentamente, seu olhar sério fixando-se no filho.

—    E se você estiver errado, Wang? — questionou Cheng, sua voz grave e controlada.

—    E se essa luta não for nossa para travar? Nós somos uma vila pequena. Pessoas comuns. Não somos guerreiros nem heróis.

—    Mas eu sou! — respondeu Tao, levantando se abruptamente. Sua cadeira arrastou-se pelo chão com um som agudo. — Eu posso lutar! Não vou ficar parado enquanto Feng nos ameaça.

Cheng caminhou até ele, suas mãos firmemente pousadas na mesa enquanto inclinava-se para encará-lo de perto.

—    Você é jovem, Tao. Você tem força, mas não tem ideia do que significa proteger algo. Proteger não é lutar até o último suspiro. É fazer escolhas difíceis, escolhas que muitas vezes machucam, mas que mantêm as pessoas que você ama vivas.

Wang sentiu as palavras do pai como um golpe, mas sua determinação não vacilou. Ele olhou para a Pérola, sentindo o peso de sua responsabilidade.
 
—    Eu não posso simplesmente entregar isso — disse, mais para si mesmo do que para Cheng. —

Feng não vai parar. Ele nunca vai parar.

Cheng balançou a cabeça, sua expressão endurecendo.

—    Talvez você esteja certo. Talvez Feng seja insaciável. Mas você está disposto a sacrificar sua mãe Seus amigos? Todos aqui? Tudo isso por algo que pode ser apenas uma lenda?

O silêncio que se seguiu foi cortante. Mei finalmente quebrou sua posição neutra, colocando uma mão no braço de Cheng para acalmá-lo.

—    Cheng, por favor. — Sua voz era baixa, mas firme. — Ele está tentando fazer o que acha certo.

—    E o que é "certo"? — Cheng rebateu, olhando para a esposa e depois para o filho.

—    Lutar contra um inimigo que não podemos derrotar? Colocar em risco a vida de todos por um ideal que pode nunca ser alcançado?

Tao sentiu o peso das palavras do pai, mas sua mente estava cheia de imagens da vila em chamas, das pessoas que ele conhecia sendo destruídas por forças que ele sabia que poderia deter.

—    E se fizermos o que Feng quer? — perguntou Tao, sua voz mais calma, mas cheia de intensidade.

— Você acha que ele vai simplesmente nos deixar em paz depois de conseguir o que quer? Ele vai voltar, pai. Ele sempre voltará.

Cheng olhou profundamente nos olhos do filho, vendo a convicção neles. Ele sabia que Tao acreditava no que estava dizendo, mas a experiência de Cheng o dizia que o mundo não era tão simples.

—    Você acha que ser um herói significa lutar, vencer, proteger? — Cheng suspirou e desviou o olhar. — Eu já vi o que acontece com aqueles que acreditam nisso. Eles não sobrevivem. E quem sobra para chorar por eles? As pessoas que tentaram proteger.

Tao sentiu uma pontada de dúvida pela primeira vez. Ele sabia que seu pai não estava apenas falando de teorias, mas de algo que ele havia vivido.
 
—    Pai… — começou Tao, sua voz mais baixa agora. — Eu sei que você quer proteger a vila, mas eu também. Só que a diferença é que eu não vou desistir. Não vou me esconder e esperar que alguém nos salve. Eu vou fazer isso.

—    E se você falhar, Tao? — A voz de Cheng tremeu pela primeira vez, deixando escapar o medo que ele escondia. — Você já pensou no que acontece se você falhar?

O silêncio voltou a preencher o espaço. A respiração de Tao estava pesada, sua mente girando entre a convicção e a dúvida que começava a se infiltrar.

Mei finalmente se levantou, colocando uma mão no ombro de Cheng e depois no de
Wang.

—    Vocês dois querem a mesma coisa, mas estão presos em caminhos diferentes — disse ela, sua voz carregada de calma e compaixão. — Cheng, você sabe que Tao não vai desistir, e Wang, você precisa entender que seu pai só quer que você viva.

Os olhos de Tao se suavizaram quando ele olhou para a mãe.

—    Eu não quero perder ninguém, mãe. Nem você, nem o pai, nem ninguém na vila.
Mas eu não consigo simplesmente entregar isso e esperar pelo melhor. Cheng soltou um suspiro profundo, passando a mão pelo rosto.

—    Eu sei que não posso mudar sua mente, filho. Mas só espero que você saiba no que está se metendo.

—    Eu sei, pai — respondeu Tao, sua voz firme novamente. — E é por isso que eu tenho que tentar.

Cheng olhou para ele por um longo momento antes de finalmente assentir, embora a tristeza em seus olhos não tivesse desaparecido.

—    Se é isso que você escolhe, Tao, então eu só posso pedir uma coisa — disse Cheng. — Lembre-se de que você não está sozinho. Não tente carregar tudo isso apenas nos seus ombros.

Tao assentiu, sentindo o peso das palavras do pai. Ele sabia que estava prestes a enfrentar algo muito maior do que ele poderia compreender, mas também sabia que não podia recuar.
 
Enquanto a noite avançava, Cheng se retirou para descansar, deixando Tao e Mei na sala. Mei se aproximou do filho, colocando a mão em seu rosto como fazia quando ele era apenas uma criança.

—    Você tem o coração de um guerreiro, meu filho — disse ela com um sorriso triste. — Mas não se esqueça de que até os guerreiros precisam de apoio.

Wang segurou a mão da mãe por um momento, sentindo uma onda de conforto passar por ele.

—    Obrigado, mãe. Eu prometo que não vou decepcionar você… ou o pai.

Ela assentiu e, em silêncio, saiu para se juntar a Cheng, deixando Tao sozinho com seus pensamentos e com o brilho suave da Pérola Celestial.

Enquanto a luz da tocha diminuía, Tao olhou para o artefato em suas mãos e sussurrou:

—    Seja o que for que venha, eu estarei pronto.

Mas, no fundo, ele sabia que a dúvida ainda estava lá, sussurrando no canto mais sombrio de sua mente. E era isso que o assustava mais do que qualquer inimigo que pudesse enfrentar.

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