Fio-de-luz Fio de luz – O dossiê secreto
Ela estava intrigada. Por que ele havia se aproximado tão rápido? E por que furtara justamente o anel?
Seria possível que fosse ele? Não… não podia ser.
Seu falecido marido a havia alertado sobre a família do antigo sócio — que talvez, um dia, tentassem arrancar algo da empresa. Mas depois de tanto tempo?
O velho lhe explicara que, após a morte acidental do parceiro, a esposa fora devidamente indenizada e transferira todos os direitos da companhia para ele.
— Mas ela era gananciosa — dissera o velho certa vez. — Passou a empresa e depois se arrependeu. Quis mais dinheiro.
Ela sabia que o marido não era inocente — conseguia decifrar a malícia no olhar dele. Mas ainda não tinha dimensão do golpe que ele aplicara naquela mulher.
Contou-lhe também que o sócio tinha um filho, mas que, desde que se mudara da África do Sul, nunca mais se ouvira falar no garoto.
E agora, aquele anel roubado…
Ela sabia o quanto o velho era apegado a ele — o primeiro produzido pela companhia. Mas sentia que o valor do objeto ia muito além do sentimental.
Levantou-se. Foi até o cofre — não o das joias, o outro, o mais secreto.
Conseguira hackear a senha meses após a morte do velho, mas, na época, só encontrara documentos e dinheiro — provavelmente não declarado.
Agora, porém, precisava olhar de novo.
Desmarcou toda a agenda. Havia uma leitura muito mais importante que qualquer compromisso.
Passou horas analisando papéis, até que encontrou uma pasta envelhecida, escondida no fundo do cofre.
Não podia ser.
Era o laudo da morte do sócio — e o relatório da investigação sobre o acidente.
É claro que houve uma investigação: mais de uma morte e vários feridos.
“Localizado um dos donos da companhia sob os escombros. Conforme o legista, a morte não foi imediata…”
Ela gelou.
“O sócio foi visto por um dos funcionários conversando com o parceiro nos escombros e saiu apressado. Não foi mais visto naquele dia.”
Não… não era possível.
Sabia que o marido era inescrupuloso, mas não imaginava que tivesse ido tão longe.
Continuou a leitura:
“Responsáveis pelo laboratório informaram que o aparelho de alta pressão precisava de manutenção, mas um dos sócios recusou-se a substituir o maquinário, alegando custo elevado. Determinou que continuassem o uso, mesmo com risco.”
Ela fechou os olhos. Agora, as peças começaram a se encaixar.
Havia encontrado um adversário à sua altura.
Seu marido tinha culpa não só pela morte do parceiro, mas também pelo acidente.
Devia ter pago caro ao investigador para que o relatório fosse alterado.
Continuou mexendo nos papéis. Havia uma cópia do testamento do sócio: ele deixara sua parte na companhia — 55% — para a esposa e um fundo de educação para o filho. Deseja também que o anel fosse dela.
Mas, pelo que ela sabia, a esposa não ficara com nada além da indenização.
Havia também uma foto da mulher e do menino. Ele devia ter quase dez anos, abraçado ao pai, que, por sua vez, abraçava a esposa. Pareciam uma família feliz.
Que tédio.
— Quanto dinheiro você deve ter gasto com suborno, seu velho ambicioso… — sussurrou, rindo.
Decidiu então pegar o dossiê sobre o novo sócio. Ele possuía o mesmo sobrenome do falecido, e sua idade parecia coincidir com a do menino da foto.
Nascido em Kimberley, África do Sul.
Seria ele?
Jogou os papéis antigos na lareira e sussurrou, pensando em seu novo sócio:
Começou a rir.
Ele a havia manipulado — em Nova Iorque, nos encontros, na festa — e ela caíra em sua armadilha, iludida.
Lembrou-se das palavras do marido, horas após o casamento:
“Escolhi você por sua ambição. Sua beleza é uma bela visão, mas sua ambição me faz salivar, menina.
Quando eu me for, cuide da minha companhia e desse anel, custe o que custar — assim como eu fiz.”
Agora, ela compreendia por completo aquelas palavras.
— Não será tão fácil assim me vencer, querido
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