Fio-de-luz Fio de Luz: Um conto
Eles passaram meses planejando aquela noite. Estava tudo perfeito. A comida quente, a bebida gelada e a decoração impecável.
Mas algo a incomodava.
Não conseguia prestar atenção nas conversas, tampouco ouvia a música. Às vezes dava uma risada, fingindo ouvir atentamente as aventuras amorosas de uma das amigas. Mas seu foco estava nele. Ou melhor, neles.
Seu esposo, que aparentemente não se importava com a lista de convidados, insistira para que ela — aquela jovem viúva — fosse convidada.
A esposa não a conhecia. A mulher não fazia parte de seu círculo de amizades, nem trabalhava na empresa deles.
Quem seria?
A única coisa que ele dissera foi:
“Ela herdou o império do marido que morreu há pouco tempo. Será um bom network.”
Mas ela estava radiante demais para uma recém-viúva.
Deus, quantos diamantes brilhavam nela.
E lá ia ele novamente — seu marido — servindo outra taça de champanhe para a mulher. Gentil, solícito demais.
“Estou pensando demais sobre isso… deve ser apenas impressão minha”,
pensou, tentando se convencer.
As horas passaram.
Ao voltar do toalete, ela ouviu uma conversa ao longe:
“Eles têm passado bastante tempo juntos. Ela esteve na empresa várias vezes este mês”, disse uma voz.
“Mas onde se conheceram?”, perguntou outra.
“Acho que foi na última viagem a Nova Iorque.”
Oh, Deus. Aquela maldita viagem.
Eles haviam brigado, e ela se recusara a ir. Depois, arrependida, pegou o primeiro avião para fazer-lhe uma surpresa.
Mas, ao chegar, ele estava diferente — esquivo — e havia um perfume estranho no ar.
Na época, pensou:
“Ele está estranho por causa da briga. Esse perfume deve ser do hotel.”
“Estou exagerando”, repetiu a si mesma.
Ao retornar ao salão, foi impossível não procurar pela dama dos diamantes.
E lá estava ela — linda, alta, ruiva, com olhos tão claros quanto as pedras que usava.
Todos olhavam para ela.
E lá ia ele novamente, deixando um grupo de investidores para trocar confidências com a ruiva.
“Vamos ser racionais”, ela pensou. “Afinal, ele nunca me deu motivos para desconfiar.”
Mordeu o lábio inferior.
“Mas o que mais levaria um homem casado a cochichar tanto com outra mulher?”
A náusea voltou. Sentia o suor escorrendo pelas costas.
Mas não iria se mostrar abalada.
Não ali. Não naquela noite.
Ela também estava linda — usava joias caras — e aquelas pessoas eram seus amigos e sócios.
Aquela noite era importante demais para ser reduzida a ciúmes.
“Olhem, lá está Helena! Ela deve ter uma história empolgante para contar!”
E de fato tinha.
O tempo passou rápido. Só percebeu quando alguém comentou:
“Onde está o anfitrião? Quero fazer um brinde a ele.”
O anfitrião — seu marido — havia sumido.
E a mulher ruiva também.
Seria coincidência?
Oh, céus. Ela precisava encontrá-los.
Estariam no escritório? No quarto?
A náusea aumentou.
Já passara mais de uma hora quando, ao caminhar em direção à ala privada da casa, ouviu uma voz familiar:
“Senhoras e senhores, agradeço a todos por estarem conosco nesta noite.”
Era ele.
O marido estava de volta — e já era hora do brinde.
A festa terminava.
Mas a ruiva… havia sumido.
Ainda bem.
Ou será que não?
Mais algum tempo se passou. O último convidado saiu.
No quarto, ela já não aguentava a ansiedade.
Precisava saber.
“Quem era ela?”, perguntou, a voz alta e trêmula.
“Ela quem?”, respondeu ele, com um sorriso nos olhos.
Ah, aquele homem maldito. Estava brincando com ela.
“Aquela viúva ruiva! A que roubou sua atenção a noite toda! Ela é sua amante? Você trouxe sua amante para nossa casa?!”
Ela tremia de raiva.
Ele a encarou por alguns segundos, depois sorriu de leve.
“Ela herdou o império de joias do marido falecido. Pedi que viesse hoje por dois motivos: quero fazer sociedade com ela no ramo de diamantes.
Mas o outro motivo é mais especial.”
Do bolso, tirou um anel. O anel de diamantes mais lindo que ela já havia visto.
“É seu. Eu ia embrulhá-lo antes de entregar, mas você parece… um pouco ansiosa.”
Ele sorriu diante do constrangimento dela.
“Não precisa se preocupar.”
Beijou-lhe o canto da boca.
“Venha, vamos nos deitar.”
…
Enquanto isso, em uma cobertura do outro lado da cidade,
uma jovem viúva ruiva chegava em casa sem um de seus anéis de diamante.
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