Fio-de-luz Fio de luz e sombra
Ela odiava esse tipo de evento. Não conhecia ninguém além dele. Os outros eram apenas pessoas de quem já havia ouvido falar: um jornalista famoso, uma socialite que vivia de escândalos na mídia, uma influencer que escrevia sobre viagens e alguns empresários que apareciam nas manchetes. Nada demais.
Mas ele… ah, ele a interessava. Ele era bonito, elegante, cavalheiresco e ainda lhe dava atenção excessiva naquela noite. Ele queria algo. Mas o que? Havia comentado durante um café que queria fazer negócios com ela, mas seria só isso? Ele a intrigava. Se queria jogar, ela estava disposta a entrar na brincadeira.
O mundo havia ficado mais divertido depois que o velho morreu. Como ela torceu para que isso acontecesse! Estava amando a liberdade que a viuvez lhe proporcionava. Casar com um homem trinta anos mais velho não era nada divertido: ele se cansava fácil, não queria sair de casa e morria de ciúmes quando ela saía sozinha. Havia solidão? Sim, de certa forma. Mas a liberdade era mais encantadora.
Ela conheceu o anfitrião em sua última viagem a Nova Iorque; estavam no mesmo hotel de luxo. Ele, como sempre, bebia elegantemente seu uísque no bar do hotel e disse, depois, que aguardava por algo interessante até ela aparecer. Ela achou graça do flerte descarado, mas decidiu dar-lhe ouvidos; afinal, ele fora a coisa mais interessante que acontecera durante a viagem. Fora isso, intermináveis reuniões e pilhas de papéis para assinar. Ela amava seus diamantes, mas odiava a burocracia.
Em uma noite, ele a convidou para seu quarto. Disse que estava só e queria companhia, apenas isso. Jantaram, e foi quando ele tocou pela primeira vez no assunto da sociedade na empresa que ela herdara. É claro que ela não aceitou a proposta de imediato; não era tão inocente assim. O velho a havia ensinado muito bem. Logo depois vieram convites para cafés, reuniões em seu escritório — algumas só os dois, outras com uma mesa farta de advogados. Tediosas, como sempre.
Mas hoje ele estava particularmente interessante. Ela pensava que ele daria seu golpe fatal: ou a levaria para o quarto ou para seu escritório assinar papéis. Mas ela não perguntaria; deixaria acontecer naturalmente e aceitaria o que viesse. É claro que a ideia de ir para o quarto parecia muito mais atraente.
Deu um pequeno sorriso ao se lembrar do convite para aquele evento. Queria ser ousada e vista. Escolheu um vestido verde musgo, com decote elegante que valorizava seu busto farto e contrastava lindamente com seu cabelo vermelho. Escolheu também suas melhores joias, principalmente o anel que usava: um único diamante em formato de pera, cravado em ouro branco, reluzindo como um pequeno sol domesticado. Ela sabia que cada movimento de sua mão faria a claridade ricochetear pelos cristais das taças, cegando discretamente quem ousasse encará-la por muito tempo. Era impossível não olhar — e ela sabia disso. Era perfeito.
Não demorou muito para perceber que a anfitriã a vigiava o tempo todo. “Como era mesmo o nome dela? Ah, não importa.” Esse detalhe deixou tudo mais divertido. Aquela mulher insegura a observava havia algum tempo, mas que bobinha. Para tornar tudo mais interessante, ela requisitou a atenção dele várias vezes, cochichou em seu ouvido e até tocou seu braço. Podia sentir o olhar, a fúria, a insegurança, a ansiedade. Perfeito.
“Acho que deveríamos concluir nossa… sociedade”, disse ele com voz suave, cada palavra uma promessa de poder e luxúria. Ela não conseguia desviar daquele olhar. Num impulso, ela o beijou, sentindo o calor e a intensidade do momento.
e assim num impulso o beijou, ela queria fazer aquilo desde que lhe conheceu. Ele passou a mão em seu corpo, alisou seus braços. O toque e o gesto eram dominantes, precisos, como se tudo estivesse sob seu controle. Mas de repente, ele parou o beijo.
“Quero dizer sobre os diamantes, minha querida.” Ela sorriu novamente; não se envergonharia de pegar o que queria.
“Claro, aceito ser sua sócia. Peça que os papéis sejam enviados para mim amanhã”, disse. “Mas no momento preciso ir”, afinal, orgulho e vaidade não a deixariam ficar depois dessa delicada rejeição de seus afetos.
“Tudo bem, cuidarei disso ao amanhecer. Tenha uma boa noite.”
“Oh, que noite”, pensou. Só queria tomar mais um drink e dormir. Mas algo estava estranho. Havia uma leveza em algum lugar. Logo, um arrepio percorreu sua espinha: ele não apenas a seduzira, mas a traíra com a leveza de um mestre. E, naquele instante, ela entendeu que a sociedade que ele propusera já havia sido selada — com o preço dela, silencioso e brilhante.
Ela apenas sorriu e entrou em sua cobertura. Ele havia vencido… dessa vez.
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