Fio-de-luz Fio de luz – Entre mentiras e diamantes
O dia amanheceu. O sol bateu em seu rosto pela fresta da cortina. Ela olhou para a cama — ele já havia levantado. Sentou-se e alisou o cabelo.
“Bom dia, meu amor.”
Ele saiu do closet, elegante em seu terno preto. Veio ao seu encontro e lhe deu um beijo leve. Sorriu.
“Troque-se e venha tomar café comigo.”
Assim, ele saiu do quarto, e ela ficou observando o closet, ainda sentindo o perfume dele. Tudo parecia normal — mas só parecia. Algo a incomodava.
A noite anterior havia sido estranha. O comportamento dele, estranho. E a explicação… vazia. Na verdade, não houve explicação alguma.
Ela olhou para a penteadeira e viu o anel. Era realmente lindo — havia adorado o presente. Mas seus instintos diziam que havia algo errado.
Levantou-se, pegou o anel e ficou observando-o.
“O que você está escondendo de mim?”, murmurou.
Preparou-se para o café. Lá estava ele, como todos os dias, lendo as notícias com o café preto ao lado. Parecia apenas mais um dia normal.
Ao se sentar à mesa, não conseguiu comer. Estava ansiosa, e o estômago embrulhava.
“Tem algum plano especial para o dia?”, ele perguntou.
“Não. Apenas minha rotina normal.”
Ela precisava saber mais.
“Gostaria de almoçar comigo hoje?”, acrescentou. “Tenho uma brecha na agenda e queria ir naquele restaurante novo no centro.”
Aguardou a resposta. Estavam juntos há muitos anos — sabia perceber quando ele estava tenso ou evasivo.
“Hoje eu não posso. Estou com a agenda lotada, não conseguirei lhe dar a devida atenção. Mas podemos agendar para outro dia.”
Ele lhe deu um sorriso quadrado.
“Claro”, respondeu ela, tentando mais uma vez tomar o café.
Conforme o dia passava, não conseguia se concentrar. Ainda bem que sua secretária fazia anotações de todas as reuniões, pois com certeza ela não se lembraria de nada. Limitava-se a concordar com a cabeça, enquanto os pensamentos voltavam sempre à noite passada.
Então teve uma ideia. Sabia que podia confiar na discrição e na sagacidade da secretária. Pediu que ela fizesse uma pesquisa minuciosa sobre aquela viúva. Também queria uma cópia dos compromissos do marido. Se a agenda dele estava lotada, queria saber onde ele realmente estaria.
Ao final do dia, surgiram algumas respostas. A viúva era filha de engenheiros bem-sucedidos. Cresceu sem lar definido, acompanhando os pais de país em país, em obras de alta complexidade. Era, portanto, bem-nascida e educada.
Conhecera o marido em um evento de uma famosa joalheria que fazia negócios com a companhia do falecido esposo. Fora isso, nada parecia conectá-los.
Mas e quanto à agenda dele?
“Está vazia, senhora”, informou a secretária.
“Como assim, vazia? Onde conseguiu essa informação?”
“Tenho meus meios”, respondeu ela. “Consegui visualizar a agenda dele, olhei e-mails… e nada.”
“Tudo bem. Obrigada.”
Ela ficou pensativa. Aquilo era muito estranho.
“Espere!”, exclamou.
A secretária, que já havia se afastado, retornou à mesa.
“Vou lhe enviar a foto de um anel. Preciso que pesquise sobre ele.”
“Claro, senhora.”
Ela foi para casa, mas ele não estava lá. Talvez estivesse preso em algum compromisso — não era raro.
Mas que compromisso? A agenda estava vazia.
Deus, ela odiava se sentir assim. Tentou ligar para o telefone dele, sem sucesso. Enviou uma mensagem. Nenhuma resposta.
O tempo passou. Já era hora do jantar e ele não havia chegado. Ela mal conseguiu comer e, por fim, decidiu se deitar — fazer aquilo que parecia sempre fazer: aguardar.
Alguns dias se passaram, e aquela rotina se repetia. Ele parecia normal, com seu terno, seu perfume e o café preto. Mas durante o dia ficava esquivo, com poucas palavras e pouca atenção. Nos raros jantares em casa, o olhar era distante, cansado, reflexivo.
Naquela manhã, porém, sua secretária voltou com as informações sobre o anel.
“Não consegui descobrir muito, senhora.”
“Diga-me o que sabe, por favor.”
“Bom… não é um anel de diamante natural. Foi feito em laboratório, à base de grafite. Ainda assim, é uma joia autêntica. E é bem antigo — tem mais de trinta anos. Pelo que entendi, foi o primeiro anel produzido por uma pequena companhia na África do Sul.”
“Sabe o nome da empresa?”
“Sim, está aqui no dossiê.”
Ela lhe entregou uma pasta com o documento. A mulher leu o papel mais de uma vez.
Aquela era a empresa do falecido marido da viúva.
Estranho. Algo assim deveria ter enorme valor sentimental.
Por que o marido o tinha? Por que havia dado o anel a ela?
“Está ótimo por ora. Muito obrigada pela eficiência — e acho que não preciso lembrá-la de manter a discrição, certo?”
“Claro que não.”
Assim, a secretária saiu de sua sala.
Agora ela tinha ainda mais dúvidas.
Em que será que seu marido estava se envolvendo?
Ela precisava de respostas — e não iria mais aguardá-las sentada.
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!