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Fio de Luz

Capítulos 1

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Fio-de-luz Fio de luz – Doce veneno

Ele precisava se aproximar dela. Era urgente. Tudo fora calculado com cuidado. Sabia que ela estaria em Nova Iorque — ele fez sua pesquisa. O velho dono da empresa de diamantes era impassível, um exímio negociador. Nascera pobre, morrera bilionário. Comprara uma pequena mina africana, sacrificando milhares de vidas nativas. Impiedoso. Mas seu ponto fraco sempre fora uma mulher bonita — e sua viúva era a prova viva disso. Ele sabia onde ela tomaria café. Sabia onde comprava suas roupas. Sabia também que gostava do bar do hotel. Naquela noite, em vez de se vestir como um cidadão comum, quis chamar sua atenção. Escolheu o traje mais adequado, sentou-se em um lugar estratégico e pediu a bebida certa: um uísque puro. Uma troca de olhares bastou. Ela abriu a guarda, e ele se aproximou. Foi bom que sua esposa não tivesse viajado. A briga recente ainda doía em seu coração, mas ele precisava provocá-la para que ela não transformasse a viagem em uma segunda lua-de-mel. Precisava estar sozinho quando a viúva o visse. Aquele dia fora planejado há muito tempo. Havia muito a perder. Ela mordeu a isca. Passaram horas conversando, degustando drinks e comendo juntos. Mal ela sabia que ele anotava mentalmente cada gesto, cada palavra. Ela estava finalmente sozinha, livre… e gostava de receber atenção. Toda mulher bonita assim gostava. Não ostentava aquelas joias à toa; queria ser vista e admirada — e foi isso que ele fez. Fingiu admiração com a precisão de um maestro. Durante a viagem, convidou-a para um jantar mais íntimo em seu quarto, e, é claro, ela aceitou. Flertaram por horas, mas para manter tudo ambíguo, ele finalizou a noite dizendo:— Gostaria de fazer negócios com você. Sempre me interessei pelo ramo de diamantes.Ela sorriu e respondeu:— Podemos debater sobre isso novamente. Mas algo inesperado aconteceu. Horas depois que a viúva saiu do quarto, sua esposa apareceu. Ó, ela estava tão linda, ainda parecendo arrependida. Por mais que o amasse, a intrusão inesperada apertou seu coração e fez oscilar seus planos. Sabia que ela havia estragado seus esquemas, pelo menos por ora. Precisaria recalcular. Assim, a viagem virou o que ele tentara evitar: uma segunda lua-de-mel. Não foi tão ruim… afinal, amava sua esposa, mas ainda tinha metas a cumprir. Ao retornar para casa, enviou convites para seu escritório, planejando ganhar a confiança da viúva. Alguns encontros foram apenas entre eles, mas em outros precisou da segurança de advogados — não podia deixar pontas soltas. Ele queria tudo para si. Não perderia, não dessa vez. Chegou o dia da grande festa. Sua esposa planejara tudo por meses, os mesmos rostos, a mesma falsa bajulação. Todos queriam se aproximar para manter pequenos benefícios de se relacionar com um casal bem sucedido. Mas ele pediu um convite à parte, apenas para ela. Não ficou surpreso quando ela aceitou — ela o queria, e ele a aguardava em sua armadilha. Quando a noite chegou, ela surgiu magnífica, cheia de joias e um decote abundante. Trouxe consigo o bendito anel. Ele sabia que ela viria com ele, queria ser notada — e ele seria o acessório perfeito. Até o final da noite, o anel seria dele. Seu coração apertou várias vezes ao perceber o incômodo de sua esposa diante da viúva radiante, que pedia sua atenção repetidamente. Mas ele não podia ceder. Sentiu o olhar da amada sobre eles a noite toda. Deus, ela devia estar angustiada. Mas ele precisava prosseguir. Que Deus, ou mesmo o diabo, o ajudasse. Ele queria tudo: o anel, a empresa, ver a queda daquele império que lhe custara caro demais. A viúva era apenas uma peça do plano. Às 01:30, ela já estava levemente embriagada de champanhe. Era o momento. Mas não seria no escritório, nem no quarto. Então lembrou da estufa — o lugar perfeito. — Preciso que venha comigo para conversarmos… com mais privacidade — disse, usando o tom mais sedutor. Ela o acompanhou. A estufa cheirava a laranjas, um aroma que o lembrava da mulher mais importante de sua vida.— Acho que deveríamos concluir nossa… sociedade — disse com voz suave, cada palavra uma promessa de poder e luxúria. Ela o surpreendeu com um beijo. Ótimo! Ela se entregou ao momento, e ele aproveitou, percorrendo suas curvas com mãos firmes, mostrando que naquele jogo era o comandante. Sem que percebesse, o anel estava agora em suas mãos.— Quero falar sobre os diamantes, minha querida — disse, e ela sorriu, mantendo sua postura elegante. Ficou combinado que seus advogados conversariam no dia seguinte, e ela partiu. Ainda bem. Ele precisava finalizar aquele evento. Estava exausto daquilo. Quando todos se foram, ele voltou para a suíte do casal. Sua esposa, finalmente, não conseguiu se conter:— Quem era ela? — perguntou, com a voz alta e trêmula.— Ela quem? — respondeu ele, mantendo um sorriso nos olhos.— Aquela viúva ruiva! A que roubou sua atenção a noite toda! É sua amante? Você trouxe sua amante para nossa casa?! Ele a encarou por alguns segundos e sorriu de leve:— Ela herdou o império de joias do marido falecido. Pedi que viesse hoje por dois motivos: quero fazer sociedade com ela no ramo de diamantes. Mas o outro motivo é mais especial. Ele pegou o anel em forma de pera do bolso, observando os olhos dela brilharem:— É seu. Eu ia embrulhá-lo antes de entregar, mas você parece… um pouco ansiosa. Ela ficou corada, tão linda e tímida quanto a jovem que ele conhecera anos atrás.— Não precisa se preocupar — disse, beijando-lhe suavemente o canto da boca.— Venha, vamos nos deitar. E assim fizeram amor até o sol nascer. Nada fora mais satisfatório.

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