Skip to main content
As Golpistas-Primeiro movimento

As Golpistas

© Todos os direitos reservados.

As Golpistas Primeiro movimento

— Alô?

A voz de Lisa estava quebrada há dias. Ela estava quebrada, esse é o fato. Cuidar de tudo sozinha foi um fardo que tive que carregar e assumi sem reclamar. Porém, agora era outro pesar: o sumiço de nossos filhos.

Meus ombros estavam tensos e minha respiração estava quebradiça. Revirei a casa inteira atrás deles e fui para cozinha apenas quando ouvi um grito agoniado, seguido por um soluçar alto.

Lisa segurava uma folha como se sua vida dependesse disso. Seus olhos marejados entregavam sua tristeza e seus dedos estavam brancos ao redor do celular. Seu olhar encontrou o meu e foi então que entendi que havia algo muito errado.

— Olá, Lisa. Olá, vadia.

Reconheço essa voz. Esse tom medíocre, essa fala nojenta. Sei que é ele, não preciso de confirmações.

— Josh?

Minha voz reflete meu pavor. Se ele tinha o número de Lisa, algo bom não viria. Como o Flash, retiro o aparelho das mãos dela e olho para o maldito objeto. Lágrimas já tomam conta de mim e sinto o ar sair de meus pulmões.

— Cadê as crianças? — Lisa perguntou. Sua voz estava mais firme e ela secou o rosto, olhando atentamente para o celular.

— Digamos que elas foram dar um passeio. — Uma voz estranha falou.

— Jackson? — Lisa sussurrou, com os olhos arregalados.

— Olá, priminha. — Sua voz carregava sarcasmo.

— O que significa isso? — Lisa Questiona.

Acabo me sentando, devido uma ligeira tontura. Jackson, primo de Lisa, e meu ex juntos? Não conseguia entender a relação, como eles se conheciam. O que eles queriam e por que nossos filhos?

Pior, isso me fez desconfiar momentaneamente de Lisa. Ela sabia disso? Arquitetou todo esse tempo? Olho para minha namorada, vejo seus olhos assustados, seus lábios trêmulos, vejo dor em seus traços e descarto a ideia.

— O que significa, Lalisa? — A voz do outro lado demonstrava nojo e escárnio. — Vou contar uma história para você.

" Era uma vez um menino pobre, que tinha uma vida medíocre. Seu pai era outro pobre que nunca tinha dinheiro. Um dia esse menino decidiu fazer o errado: roubar um pão, para sua fome saciar. O que aquele menino sentiu naquele dia, mudou sua vida. Ele entendeu que as coisas poderiam ser fáceis e tomou o caminho para isso. Mas uma coisa não mudava: ele ainda era um menino pobre, por mais que tentasse, nada em sua vida mudava. Então um dia ele conheceu uma menina e seu coração se compadeceu por ela. Ele ensinou o que fazer, auxiliou a menina a comer e a crescer. Eles fizeram grandes planos que mudariam suas vidas para algo melhor. Mas um dia essa menina virou as costas para ele, pois ela não precisava mais dele e o abandonou. Então o menino fez o que precisava fazer."

Nesse momento, senti um frio em minha espinha. Como um humano fez algo tão terrível para conseguir o que queria? Como pode tocar em seres inocentes só para poder conseguir algo tão frívolo?

— Cadê nossos filhos? — Lisa perguntou mais uma vez.

Sua mão esmagava um papel e seu rosto começava a ficar avermelhado.

— Não se preocupe com eles, estão bem. — Josh falou atrás.

— Quem garante? — Falei, meu coração doía com qualquer possibilidade ruim.

— Josh, vá pegar os moleques. — Jackson falou.

Nossos olhos se encontraram, meu rosto banhado em lágrimas. Lisa veio em minha direção e me abraçou. Ficamos em silêncio, apenas esperando qualquer ruído na linha. A expectativa de ouvir minha filha me destruía, mas também me dava forças para continuar.

— Mamãe? — Aime soou na linha.

— Bebê, meu amor. — Tentei falar, mas falhei miseravelmente ao entrar em desespero.

Finalmente a ficha do que estava acontecendo, caiu. E junto com o entendimento, minhas forças também se foram. Um vórtice de emoções caiu em meu peito, e senti meu chão desaparecer. Minha bebê estava com dois homens cruéis e não sabia como agir.

— Mamãe, não quero ficar aqui, vem me buscar.

E é nesse momento que perco as estribeiras. Sinto meu joelho colidir com o chão duro, e caio em choro. Tento me segurar, mas não tenho como. Minha filha, meu porto seguro, meu tudo.

— Mãe? — A voz de Léo soou no ar.

Lisa suga o ar e se engasga. Léo nunca havia a chamado de mãe e o momento escolhido foi o mais vulnerável possível. Seus olhos se escureceram e uma lâmina de lágrima cortou pela sua face, que logo foi seca por seu dedo.

— Léo, meu filho. Mamãe promete fazer de tudo para trazer vocês de volta, está bem?

— Mamãe, você vai me abandonar? — Sua voz infantil soava magoada.
— Nunca, pequeno. Prometemos ficar juntos para sempre, lembra?
— De juradinho? — Ele perguntou.
— De juradinho. — Ela respondeu
— Pronto, já conversaram e agora as crianças podem voltar para o quarto.

— O que você quer? — Escuto Lisa dizer, sua voz fria.

— Vamos, Lisa, seja esperta. — Jackson voltou a falar. — Você sabe bem o que eu quero.

Não consigo olhar para cima, mantenho minha cabeça abaixada junto de meu corpo. Meu coração dói, meus pulmões lutam por ar e sinto como se tivessem me rasgado por inteira. Minha alma se encolhe tamanha dor sentida por mim.

— Jackson, estamos falando de um banco. — Lisa soava como uma faca afiada.

— Por isso serei benevolente, Manoban. Vocês terão um mês para se preparar.

— Acha que ficarei longe de meus filhos por esse tempo? — Lisa gritou.

Honestamente, não sei como ela não estava como eu. Cada célula do meu corpo reclamava por falta de nossos filhos, cada grama de mim se sentia deslocada. Era como se tivessem aberto meu peito e arrancado meu órgão vital.

— Vamos fazer um trato, para você ver que não sou ruim. — Jackson falou.

— Você sequestrou meus filhos e acha que é bonzinho? — Escárnio escorria pelos lábios de Lisa.

— Você quer calar a boca e ouvir, ou terei que bater nesse ruivinho? — Josh berrou do outro lado.

Nesse momento, percebi como eles nos tinham em suas mãos. Olho para cima e vejo Lisa ficar branca. Ela finalmente senta e olha para a parede. Seu silêncio é a resposta que eles queriam.

— Escute, Lisa, eu não quero causar nenhum mal. — Jackson respondeu de forma calma e calculada. — Quero apenas o que é meu e ninguém saí ferido, que tal?

— Qual o trato? — Lisa respondeu, seu semblante inexpressível, seu olhar fixo no nada.

— Vamos começar com os pirralhos. — Jackson falou. — Vou garantir que eles sejam bem cuidados e tratados bem.

— Quem garante? — Pergunto, com minha voz quebrada.

— Olha, eu queria apenas os pirralhos, mas ganhei de brinde uma mocinha bem bonita.

Miyeon. Nessa hora minhas lágrimas são paradas abruptamente. Será quê? Ela seria capaz?

— O quê? — Lisa pergunta.

— Sabe, ela é bem obediente. Mandei calar a boca, ela calou. Mandei entrar no carro, ela entrou. — Jackson riu, o que causou um frio em minha espinha.

— Não toque neles. — Lisa falou, raiva em sua entonação mostrava que ela não estava para gracinhas.

— Não queremos a garota, Lalisa. Queremos a grana. — Josh falou rindo, como se houvesse um absurdo nos dizeres de Lisa.

— É o seguinte, Lisa. Um mês, dez milhões.

— Uma semana e um milhão. — Jackson riu da fala de Lisa.

— Duas semanas e 7 milhões, Lisa. E poderá falar com eles todos os dias.

Lisa ponderou, seus dedos batendo na mesa. Ela olhou para mim, vendo meu estado. Fechou os olhos e suspirou alto. Quando os abriu novamente, determinação brilhava em sua íris.

— Onde fazemos a troca?

Lisa e Jackson ainda conversaram os detalhes, mas eu não quis ficar ouvindo. Me levantei e fui para o nosso quarto. Lá me permito gritar e rasgar o resto do meu emocional. Minha Aime, minha doce filha, à mercê de dois homens sem escrúpulos.

E ainda havia Léo, meu menino gentil. Só de pensar em como eles podem estar, o medo, a mágoa, tudo. Berro mais, choro mais, tudo em mim grita dor. Sinto o peso da separação em minhas veias.

Logo sinto o colchão afundar e Lisa me puxar para si. Escuto seus soluços, sinto sua dor. Nos abraçamos fortemente, deixando cada gota sair, nos esgotando em vários sentidos. Quando finalmente paramos, Lisa beija minha testa e acaricia meu rosto.

— Vou fazer de tudo para trazer nossos filhos de volta. — Ela sussurra.

— Promete, Lisa? — Soluço mais uma vez, fechando meus olhos.

— Com cada fibra de meu ser, Jennie. Vou até o inferno por eles.

Coloco meu rosto em seu pescoço e me deixo embalar por seu corpo. Lisa começa a murmurar palavras doces, causando uma calmaria necessária no momento. Suas mãos carinhosas faziam um vaivém em minhas costas, um gesto pequeno, mas com grandes significados.

Sua voz suave transmitia confiança de que tudo daria certo. Me seguro em seu braços, que são minhas âncoras no momento e também a puxo para mim, para que eu também possa transmitir essa paz para ela, afinal ela perdeu a mãe e seu filho, nem posso imaginar o caos que seu coração deve estar.

A vejo pegar o celular em seu bolso e discar um número. Suas mãos foram para minha nuca e sinto-a plantar inúmeros beijos em minha cabeça. Só espero que ela não se sinta culpada de nada.

— Jisoo, reúna todos, menos os lacaios de Jackson. Sim, é urgente. Não, eu conto na oficina. Duas horas. E, Jisoo, não poupe ninguém. Quando disse todos, são todos que estão conosco.

 Está na hora de começar o xeque-mate.

 


  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!

Deixe um comentário

Você está comentando como visitante.
  • Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
  • Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
  • Obrigado por fazer parte dessa jornada!