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Errantes

Capítulos 500

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Errantes Desencontro.

Encontro os amigos.

Luck saiu do carro de forma bastante lenta, ajustou sua blusa rapidamente e entrou na multidão fervilhante. As pessoas conversavam e riam em voz alta, causando uma enorme poluição sonora no local.

Ele tinha cuidado ao avançar, evitando esbarrar nos ombros de todas aquelas pessoas estranhas que estavam na sua frente. Porém, mesmo com toda a atenção, sentiu um impacto forte que o fez recuar alguns passos.

À sua frente estava um homem de cabelos lisos e loiros, com um olhar afiado e postura ereta. O desconhecido olhou Luck dos pés à cabeça, o rosto dominado por uma expressão neutra.

— Tome mais cuidado ai, moleque — disse o homem, com voz lenta e alta.

Luck abriu a boca para responder, mas, antes que pudesse dizer algo, o desconhecido se afastou, atravessando um grupo de pessoas e desaparecendo de sua vista. Um arrepio passageiro percorreu toda sua espinha — aquele sujeito não parecia ser gente boa.

Sem tempo para se importar com aquele estranho, Luck sacudiu a cabeça e continuou caminhando. À distância, avistou alguém que se destacava na multidão: uma garota loira de pele branca, usando óculos de aro fino e dourado. Ela mantinha uma postura impecável, vestindo um conjunto que parecia ter sido passado a ferro naquela manhã — uma blusa social branca, bem alinhada, uma saia preta até os joelhos e uma meia-calça escura...

Porém, o que mais se destacava na garota era o cabelo — não apenas preso, mas domado. Amarrado em um coque impecável, onde nenhum fio ousava escapar, cruzado por duas agulhas vermelhas de trinta centímetros que se entrelaçavam em um X perfeito.

A moça parecia estar à procura de alguém. Seus olhos castanhos percorriam a multidão com pressa, enquanto um dos pés batia no chão com bastante impaciência. Os braços estavam cruzados, e os dedos tamborilavam contra eles, até que seu olhar encontrou o rosto de Luck.

Ao reconhecê-lo, a garota soltou um suspiro pesado, as sobrancelhas arqueando em exasperação.

Luck esboçou um sorriso lento e sem graça.

“Puta que pariu, é a Fernanda”, pensou ele.

Ela, percebendo o sorriso dele, fez um gesto breve com o dedo indicador, chamando-o para perto.

Obediente, o jovem avançou com o rosto avermelhado e um sorriso forçado, parando a cerca de três metros dela.

Por alguns segundos, ninguém falou. Os dois ficaram se encarando — os olhos de Luck, semicerrados; os de Fernanda, pesados e intensos.

— Parece que me atrasei um pouquinho, né… — disse Luck, levando uma mão à nuca e coçando-a lentamente.

Fernanda balançou os ombros com indiferença, fechando os olhos como se estivesse evitando perder o pouco de paciência que ainda tinha.

— Eu já sabia que você ia se atrasar, Luck. Na verdade, até achava que você nem viria — disse Fernanda, com os lábios tensionados em uma linha fina.

As sobrancelhas de Luck se arquearem, e um sorriso irônico apareceu no canto da boca. Ele apontou o dedo indicador para ela, respondendo em voz alta e acelerada:

— Não vem com essa, Fernanda! Hoje você não vai me encher o saco com essa obsessão por pontualidade. Você também está atrasada!!!

— Não estou.

— Então o que está fazendo aqui fora?

— O mesmo que todos os outros alunos…

— Tá, eu sei que estou atrasado. E quando se está atrasado, fica do lado de fora do lugar onde se quer estar — gesticulou, abrindo os braços para a multidão. — Igual essa galera toda aqui, que também deve estar atrasada. Ora, se eu e eles estamos atrasados, e você está no meio deles… Sinto dizer, Fernanda, mas você também está atrasada — argumentou, as mãos desenhando explicações no ar, o olhar fixo nela como se estivesse ensinando uma criança.

Fernanda deu dois passos à frente. Ergueu o dedo indicador da mão direita e cutucou o peito esquerdo de Luck com a unha — acertando sem querer seu mamilo. Um sorriso surpresa lhe escapou ao ver a reação dele.

— Ai, meu mamilo…

— Luck. Eu cheguei no horário. Como todo mundo aqui.

— Ah, é? Então por que tá todo mundo aqui fora? — perguntou ele, esfregando o local dolorido enquanto recuava.

— Porque quem está atrasado, além de você, é o pessoal da Legado — Fernanda revirou os olhos — e não eu nem todas essas pessoas…

— Ah… Esse pessoal é bastante incompetente mesmo. Já sabia que não era boa ideia deixar essas empresas estrangeiras trabalharem por aqui — resmungou Luck, coçando o queixo com ar de superioridade.

Fernanda cruzou os braços e soltou outro suspiro profundo, desta vez mais exasperado.

— Se incompetência significa apenas se atrasar, você então é o ser mais incopetente do mundo, Luck.

— Hah! Não vem com esse papinho pra cima de mim não, Fernanda. Eu trabalho demais e por isso me atraso. Mas vamos mudar de assunto, porque não quero discutir com você… — respondeu ele, imitando o gesto dela e cruzando os braços, fazendo biquinho.

— Sei… Bom, pelo menos tenta procurar a Júlia e o André por aí. Já faz um tempo que estou atrás deles — Fernanda ignorou o tom provocador dele.

— Sumiram, é? Achei que você estava me procurando agora há pouco… — disse Luck, puxando uma careta falsamente fofa.

Ela olhou dos pés à cabeça dele, erguendo uma sobrancelha com desdém.

— Nunca.

— Nem pra ser uma pessoa que se preocupa com os amigos você serve, Fernanda… — ele suspirou, dramático.

— Eu me preocupo com meus amigos. Só não com você, que é um cabeça-oca.

Sem perder o ritmo, Luck continuou a provocá-la, dando um passo para trás quando ela tentou dar-lhe uma bicadinha na canela. Ele revidou tentando beliscar o braço dela, mas Fernanda desviou com um movimento ágil, soltando um "tsc" de desaprovação.

Enquanto os dois brigavam feito cachorrinhos, uma pessoa acabou tocando no ombro de Luck. Fernanda, ao perceber isso, então liberou um sorriso de sua boca. Luck, por sua vez, quando sentiu o toque no ombro, deu um leve giro, ficando de frente para tal pessoa.

— Julia! Finalmente você apareceu! Cadê o André? Por onde vocês estavam? Não se lembra que eu falei para vocês me esperarem em um local visível?— falou Fernanda, em um tom preocupado enquanto se aproxima dela, colocando as mãos para trás em sequência.

Julia parecia ser uma menina bastante meiga. Tinha um cabelo cacheado da cor preta, amarrado em duas maria-chiquinhas, que balançavam a cada movimento de sua cabeça. Os cabelos estavam bem definidos, como laços de fitas. Quando os raios de sol batiam neles — podiam até refleti-los no rosto de quem os olhasse.

A garota tinha olhos da cor dourada, refletindo a riqueza de sua beleza. Usava um casaco rosa vibrante que cobria toda sua boca, não de forma que a atrapalhasse a falar, mas apenas impedia os outros de verem um pouco de seu rosto, mas não os de sentir o cheiro doce do seu batom de morango que se misturava no ar.

Enquanto olhava para seus amigos, Julia ajeitava seu short jeans azul-claro — que tinha algumas partes esbranquiçadas — que cobria apenas até um pouco acima dos joelhos.

— Sim! Você falou isso, mas o André ficou com fome e foi comprar um salgadinho, aí eu fui com ele — explicou Julia, mostrando joinha com seu polegar.

— E ele comprou salgadinhos para nós também? — indagou Luck, colocando as duas mãos no bolso. — Meio que eu não comi nadica de nada…

— Não sei… Ele ficou lá na barraquinha para pagar o que ele comprou para mim.

— Nem lembraram de nós, né… — falou Luck, cruzando os braços e voltando seu olhar para Fernanda, enquanto arqueava uma das sobrancelhas — E se eu morresse de fome agora, sabe?

— Para de ser dramático, menino — respondeu Julia, segurando o braço de Luck logo em seguida, enquanto mantinha uma careta falsa.

— Fica tranquilo, Luck. Claro que eu lembrei de vocês — disse André, aparecendo como em um passe de mágica, saindo de dentro da multidão, se aproximando do outro lado de Luck. Ele segurava uma sacola em uma das mãos, enquanto a outra ficava dentro do bolso de sua calça jeans preta.

Luck virou seu olhar na direção de seu amigo.

André era um homem da altura de Luck, possuía olhos castanhos claros e pele negra. Usava uma camiseta azul que, como as de Luck, marcava seus músculos bem definidos. Porém, o que realmente o destacava era o seu cabelo — dreads castanhos como serpentes adormecidas que desciam até seus ombros e se moviam bem suavemente, enquanto ele balançava sua cabeça. Por último, ele calçava um par de tênis brancos imaculados, novos em folha, sem nenhuma ruga ou mancha.

— Caramba André!! Não dava para vocês me esperarem aqui? Eu falei que voltava em um instante! — disse Fernanda, repreendendo o amigo, enquanto coçava a nuca com uma das mãos, franzia suas sobrancelhas e comprimia seus lábios em uma linha bem fina.

— Calma!! Foi apenas um pequeno imprevisto, Fernanda. Às vezes isso acontece, fica tranquila. Nem tudo vai sair como você quer — respondeu André, chegando perto dela e abrindo a sacola para que a mesma pegasse um salgadinho.

Fernanda hesitou por alguns segundos, até que retirou um salgadinho da sacola e começou a comer de forma bem rápida, enquanto olhava com os olhos cheios de fúria na direção de Luck.

— E tu foi aonde, Fernanda? — perguntou Luck, enquanto arqueava uma das sobrancelhas.

— Não é da sua conta! — respondeu ela.

— Foi ao banheiro! — disse Julia.

— Atá! — finalizou Luck.

André então ficou ao lado de Julia, entregou o salgadinho para ela e com um aceno de cabeça pediu para que entregasse para Luck. Ela então o fez, enquanto Luck, rapidamente pegou o salgadinho da sacola e o devorou, como um animal que não se alimentava há dias.

— Que legal que você lembrou deles! — elogiou Julia, chegando o mais perto possível de André, com os olhos brilhando na direção dele.

— Pior que eu comprei esses salgadinhos para a gente comer aqui. Não achei que eles iam aparecer agora — respondeu André, com um tom baixo e com a boca bem próxima do ouvido de Julia.

Ela então soltou uma leve risada ao ouvir a frase de seu amigo, que por sua vez, corou e fechou os olhos.

— Pior que eu ainda tô com fome — falou Luck, passando a mão na própria barriga.

— É isso que dá ficar acordado até tarde! — criticou André.

— Sim, mas eu fiquei até tarde trabalhando, tá ligado? — respondeu Luck coçando a nuca em seguida.

— Sei como é que é! Mas mesmo assim, você prometeu que chegaria no horário, Luck.

— Pior que é…

— Sorte a sua que esse pessoal aí atrasou também — explicou André.

Enquanto os dois conversavam, Julia olhou para a rua, vendo que alguns carros e caminhões começavam a vir em direção à multidão.

— Então, se o pessoal não vier, vocês vão fazer o que? Eu acho que vou pra casa dormir mais um pouco — disse Luck, colocando as duas mãos na cintura.

— Eu acho que você não vai poder fazer isso não, Luck — respondeu Julia.

— Por que não? — Luck perguntou.

Julia então apontou seu dedo indicador em direção aos carros que vinham na direção deles, e falou:

— Eu acho que é porque aqueles carros ali são eles!

Luck e todas as outras pessoas fixaram olhares nos carros. A multidão se abriu ao meio, permitindo que eles passassem. Os quatro amigos puderam ver, mesmo que pouco, o rosto dos motoristas. Alguns aparentavam estar com semblantes sérios; outros apenas tinham uma feição neutra.

O portão, por fim, se abriu de forma bastante lenta, permitindo que os veículos adentrassem o local. Um dos porteiros se movimentou, ficando no meio do espaço entre os portões e a multidão.

— Bom dia a todos os novos alunos da maior formadora de Sentinelas do mundo. Por causa de alguns pequenos imprevistos, todas as pessoas que trabalham nessa filial se atrasaram um pouco. — disse o porteiro, em tom alto e forte, dando uma pequena pausa para respirar logo em seguida. — Eles pedem desculpas e prometem que isso nunca mais irá acontecer! Agora, desejo que todas as pessoas aqui presentes sigam os veículos que acabaram de entrar. Andem de forma organizada para não pisarem nos gramados. Por gentileza, só andem no caminho ladrilhado. Obrigado.

O porteiro então se retirou do local. As primeiras pessoas começaram a caminhar pelo local que fora indicado, mantendo passos lentos. Alguns voltaram a conversar entre si, mas a imensa maioria permaneceu em silêncio.

— Ah, não… — resmungou Luck, mantendo a cabeça cabisbaixa.

— Vai ter que vir com a gente — falou Julia, dando um leve tapa nas costas de Luck, fazendo-o caminhar para frente.

— E é melhor se comportar direito — repreendeu Fernanda, com a voz grossa e sobrancelhas franzidas, enquanto ia à sua frente.

— Vamos nos animar aí, Luck, confia que vai ser divertido — encorajou André, caminhando ao seu lado.

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