© Todos os direitos reservados.
Another me CAPÍTULO 5
"Os exames detectaram midazolam no seu sangue. É um sedativo potente, mas alguém também administrou flumazenil, um antagonista que reverte os efeitos do sedativo, fazendo você acordar mais rápido. É por isso que você sentiu fraqueza e tontura nos últimos dias." As palavras do médico martelam na mente de Matteo enquanto ele dirige em alta velocidade rumo à casa de Genesis.
Dois dias antes, enquanto estava na casa dela e foi à cozinha pegar um copo de água durante a madrugada, ele notou uma seringa sobre a bancada perto da porta assim que Marie acendeu as luzes, mas antes que pudesse questionar, Marie descartou a seringa rapidamente.
— Maldita! O que você está tramando? Quem é você de verdade, Marie Connor? — Matteo rosnou, apertando o volante até os nós dos dedos ficarem brancos.
Pouco tempo depois, ele chegou à imponente mansão Rothwell. Ao sair do carro, respirou fundo tentando manter o controle. Seus nervos estavam à flor da pele, mas ele sabe que precisa se concentrar. Sua relação com Genesis havia avançado a ponto de ele ter livre acesso à casa. Sem hesitar, abriu a porta e entrou, sem se preocupar em bater ou tocar a campainha.
Matteo adentrou cada vez mais na mansão, sendo recebido por um silêncio inquietante. As luzes estão apagadas e o ar está pesado. Ele vasculhou os cômodos, atento a qualquer sinal de Marie, mas não a encontrou. Foi então que ele se lembrou do que Genesis lhe disse em uma conversa casual: O quarto trancado no andar de cima pertencia ao pai delas, e ela foi aconselhada por Marie a nunca mais abri-lo por conta dos pesadelos que tinha.
Matteo sentiu um calafrio subir pela espinha. Se houvesse respostas, é lá estarão, ele pensou.
Com passos rápidos, subiu as escadas. Ao alcançar a porta do quarto, girou a maçaneta, mas estava trancada. Sem hesitar, forçou o corpo contra a porta, que se abriu com um estrondo, lançando uma nuvem de poeira no ar. Assim que Matteo acendeu a luz, uma lâmpada fraca piscou, revelando um ambiente sufocante. Os móveis antigos estão cobertos de poeira, teias de aranha se estendem como véus por todos os cantos, retratos antigos cobrem as paredes, mas as imagens estão desbotadas. O lugar reflete solidão e esquecimento.
No centro da sala, algo chamou a atenção de Matteo: Três urnas perfeitamente limpas repousam sobre uma mesa baixa. Matteo se aproxima lentamente, o coração batendo forte contra o peito. Ele passou a mão sobre uma delas, sentindo a superfície fria. Na primeira urna, leu o nome gravado: Gabrielle Hans Rothwell. Na segunda, o nome Robert Rothwell. A terceira urna era menor e, curiosamente, não tinha nome gravado.
Quando ele virou a urna, o choque percorreu seu corpo como uma descarga elétrica: O reflexo no metal polido mostra o rosto de uma menina de aproximadamente 13 anos. Por um instante, ele não soube distinguir se é Genesis ou Nemesis.
Antes que Matteo pudesse processar o que estava vendo, sentiu uma dor lancinante na cabeça, como se algo pesado o tivesse atingido. A sala girou ao seu redor e, em questão de segundos, tudo ficou escuro.
Matteo acordou com uma dor pulsante na cabeça e percebeu que está amarrado a uma cadeira com os pés e mãos firmemente presos. Sua visão demorou a se ajustar, mas aos poucos ele foi se recuperando.
Diante dele está Marie Connor, a governanta da mansão, com uma expressão carregada de ódio e desgosto.
Ao lado dela, um homem alto observava a cena em silêncio.
— Detetive Sano, achei que você tivesse uma missão hoje. O que lhe traz aqui? — Disse a mulher.
— Eu já sei da verdade, Marie. Sei que você me sedou dois dias atrás, — ele rosnou. Ela, por sua vez, deu um sorriso cínico e cruzou os braços.
— Seria bom se tivesse sido só uma vez, Detetive. Mas foi muito mais do que isso.
— O quê? Por que? — Matteo perguntou, o olhar fixo nela.
Marie aproximou-se, puxou uma cadeira e sentou- se na frente dele.
— Já que você vai morrer mesmo, não vejo problema nenhum em contar a verdade, — Matteo estreitou os olhos.
— Você já conhece a história que 'Genesis' contou sobre a tragédia no lago de quando ela tinha 13 anos. — Ela fez aspas no ar com os dedos ao falar o nome da garota. — Mas o que nem Você, nem ela sabem, é que naquela mesma noite, Genesis morreu afogada. — Matteo ficou atordoado com a revelação. Ele sempre desconfiou da relação entre Genesis e Nemesis, mas nunca imaginou que as coisas fossem tão complexas.
— Deixa ver se entendi... você disse que nem ela sabe disso? Como é possível? — Ele questionou, ainda sentindo o impacto das palavras de Marie.
— Naquela noite trágica, Nemesis fugiu de casa. Quando me apercebi de sua fuga, eu e os seguranças fomos atrás dela. Nós a encontramos desacordada e ela havia batido com a cabeça em uma pedra. Levamos ela de volta pra mansão e chamamos o médico da família que a tratou. Ela ficou dias desacordada e quando acordou, ela acreditava ser Genesis. Suas memórias estavam confusas e depois de realizar vários exames, o médico a diagnosticou com distúrbio dissociativo de identidade e um quadro severo de delírios. Nós a apoiamos com isso, tratando ela como se fosse Genesis. Ela dizia que sua irmã era uma assassina que matou seu pai e que ela se tornaria uma grande policial para prendê-la a todo custo. — Marie fez uma pausa, parecendo absorver as próprias palavras. — Certa vez, quando o médico voltou a visitá-la depois de algum tempo, ele me informou que Nemesis precisaria ser internada porque o caso dela estava cada vez pior. Mas ela estava escutando atrás da porta e ouviu tudo. Ela surgiu atrás do médico e o esfaqueou por trás, vezes sem conta até a morte. Seu olhar estava repleto de ódio e raiva. Quando ela olhou pra mim, eu achei que fosse me matar também, mas então sua expressão suavizou e ela desmaiou. Rapidamente ordenei aos empregados que me ajudassem a limpar o local. Nesse dia eu percebi que ela estava interpretando os dois papéis, — ela fez outra pausa e se ajustou na cadeira.
— Os anos foram passando e vários médicos a consultaram sob sigilo, até que por fim nós descobrimos que a maneira de controlar sua mudança de personalidade era através do hipnotismo. Mas isso tinha um certo tempo. Uma vez quando a deixamos hipnotizada sob a personagem de Genesis por muito tempo, ela acabou matando um dos seguranças em um ataque de ira, mas logo em seguida se sentiu tão mal que tentou tirar a própria vida. Foi aí que percebi que o mal nela, de um jeito ou de outro sempre iria despertar, assim, seu lado bom passou a ser dominado por Genesis e seu lado sombrio, por Nemesis. Eu e outros subordinados sempre a ajudamos com os ataques de crime, e depois que ela voltasse ao personagem Genesis, tudo parecia nunca ter acontecido. Desse jeito ela cresceu achando que é Genesis e que sua irmã Nemesis é uma assassina. — Ela explica.
Matteo não consegue acreditar no que acaba de ouvir e fica mais atordoado ainda. Mas no meio de tudo, uma questão lhe surge:
— Porque você a ajuda tanto? Você poderia ter denunciado ela desde o início, desde que ela matou o próprio pai, mas em vez disso, você cobriu e ainda a ajudou com outros crimes. — ele fala apressadamente, evidenciando sua confusão e desespero.
— Que espécie de avó seria eu se não ajudasse minha neta? Além disso, Robert morreu porque mereceu. Eu não aguentava mais ver ele bater nas minhas meninas ao ponto de elas ficarem irreconhecíveis.
— Neta? — Matteo perguntou incrédulo.
— Eu sou a verdadeira mãe de Gabrielle. Quando eu tinha 17 anos, fiquei grávida de Gabrielle, mas o canalha do pai fugiu sem assumir. Quando meus pais descobriram, me expulsaram de casa e eu não tinha para onde ir. Felizmente uma amiga minha disse que estavam precisando de faxineira em uma mansão, assim, prontamente me ofereci para o cargo. Meses depois, minha barriga começou a sobressair e meus patrões se deram conta que eu estava grávida. Eles me chamaram e disseram que iam me demitir, mas eu implorei a eles dizendo que não tinha para onde ir e não tinha mais ninguém. O casal não conseguia ter filhos, então me ofereceram muito dinheiro em troca da criança que estava
esperando. Eu sabia que não ia conseguir cuidar dela, mas também não queria me separar dela, assim eu rejeitei o dinheiro e disse que aceitava dar minha filha para eles desde que me permitissem ficar perto dela como empregada ou babá, e eles aceitaram. — Ela voltou a se remexer no seu assento.
— Quando os pais adotivos de Gabrielle morreram, deixaram essa mansão e todos os bens para ela, e foi nessa altura que ela conheceu Robert Rothwell. Por ela ser muito apegada a mim, eu permaneci todo o tempo ao lado dela, até mesmo depois que ela morreu, eu fiquei ao lado de minhas netas.
Matteo fixou seus olhos azuis em Marie, ainda sem acreditar. Ele sempre suspeitou de coisas estranhas nessa mansão, mas não sabia que essas paredes escondiam tantos segredos.
— Mas no final das contas, onde é que eu entro em tudo isso? — Sano confronta Marie.
— Detetive, se você tivesse um irmão gémeo assassino, como você poderia provar para as pessoas que foi seu irmão que tirou vidas e não você? Você sempre foi o álibi de Nemesis, mesmo sem que nenhum dos dois soubesse. No princípio, todos desconfiavam de Genesis, assim, quando vocês começaram a "namorar", eu achei a maneira perfeita de despistar a polícia. Toda vez que vocês ficavam juntos, eu te sedava e deixava Nemesis libertar seu lado sombrio. Assim, quando voltava, ela se deitava novamente ao seu lado e ninguém poderia desconfiar dela por ter passado o "tempo todo" contigo em sua cama. — Marie fala fazendo vírgulas com os dedos.
Matteo não podia negar que foi um plano muito bem pensado. Nem ele, nem ninguém poderia desconfiar disso se não fosse dito pela própria Marie.
— Sabe, detetive Sano, em realidade, Nemesis não é uma má pessoa. Ela só é desequilibrada e cheia de transtornos. A irmã era a pessoa que ela mais amava, o pai era a pessoa que ela mais odiava e ela se culpava pela morte da mãe. Que espécie de avó seria eu se não apoiasse minha neta?
— Se você realmente se importasse com ela, teria parado isso logo desde o início! Agora ela deve estar cercada de policiais que vão prendê-la ou até mesmo matá-la! — Ele grita. Marie ri alto, uma risada carregada de veneno e maldade.
— Detetive Sano, da mesma maneira que ela é uma policial eficiente quando é Genesis, ela é uma assassina eficiente quando é Nemesis. Não a subestime. A essa altura ela já deve ter dizimado mais da metade dos policiais daquele local. Ela tem total controle do prédio e pode encurralar todo mundo, basta atrai-los para dentro.
Os lábios de Matteo se curvam em um sorriso debochado, fazendo o rosto de Marie se fechar e uma carranca se formar em sua testa.
— Do que está rindo? — ela perguntou.
— Obrigado por revelar toda verdade, Marie Connor, mas você está detida!
Antes que ela pudesse reagir, policiais invadiram o quarto e imobilizaram ela e o homem que a acompanhava. Após ser solto, Matteo revelou um dispositivo de escuta escondido na costura de sua calça.
— Eu sabia que algo estava errado, então pedi reforços antes de vir e tudo quanto foi dito aqui, foi escutado diretamente na sede da wap.
Marie lançou seu olhar furioso para Matteo, mas já era tarde demais. Os policiais a levaram para fora, e ela viu que assim como ela, todos os homens que estavam na mansão e a serviam, foram detidos.
Matteo permaneceu sentado por alguns instantes, recuperando o fôlego e processando tudo o que
acabou de ouvir. Ele finalmente tem as respostas, mas elas são ainda piores do que ele imaginava.
Ele se levantou, subiu no carro, ligou o motor e saiu da mansão, indo novamente para o local da missão.
*****
Ao chegar, Matteo percebeu a agitação do lado de fora. Pessoas se amontoando na calçada, apontando para o quarto andar, onde a única luz do prédio permanecia acesa. Policiais tentam arrombar a porta de entrada, mas, por algum motivo, ela continuava intacta.
Matteo avistou Christian Meyer entre os oficiais e se aproximou rapidamente.
— Qual é a situação aqui? — perguntou, a voz carregada de urgência.
Christian ergueu os olhos cansados e respondeu:
— Nemesis tomou todo o prédio. Arllow e outros estão lá dentro, mas perdemos completamente a comunicação. Houve disparos, mas não sabemos qual é a situação.
— E por que a comunicação ainda não foi restabelecida? Onde está Amin? — exigiu, sentindo que o tempo jogava contra ele.
Por um instante, Christian desviou o olhar. Seus ombros pareciam pesar sob o peso das palavras que está prestes a dizer. Quando finalmente olhou para Matteo, ele disse:
— Ela está morta. Nemesis a matou. — O impacto das palavras atingiu Matteo. Seu coração se apertou e ele instintivamente levou a mão ao lugar onde a dor emocional parecia se tornar física. Amin era mais do que uma colega de profissão para ele. Ela era uma amiga leal, alguém com quem compartilhava uma confiança forjada ao longo dos anos.
Matteo respirou fundo, tentando suprimir a dor. Não havia tempo para luto agora.
— Já temos alguém lidando com o sistema para destravar... — começou Christian, mas foi interrompido por um policial que correu até eles.
— Senhor, conseguimos acesso. As portas foram destrancadas.
Matteo e Christian trocam um olhar carregado de urgência. Sem perder tempo, sacaram suas armas e entraram no prédio, protegidos por coletes à prova de bala.
Enquanto sobem pelas escadas, o cheiro de sangue paira no ar. Corpos de policiais e civis estão espalhados pelo chão, os olhos vidrados refletindo uma morte repentina e impiedosa.
— Fiquem atentos! — Christian alertou aos oficiais. — Ela pode ter aliados e, se tiver, vão atacar quando menos esperarmos.
Finalmente, alcançaram o quarto andar. Três policiais cobriram a entrada à direita, outros três à esquerda, enquanto Matteo e Christian seguiram pelo meio.
Ao atravessarem as portas, a cena que encontraram fez o coração de Matteo acelerar: Nemesis está de pé, segurando uma arma firme em direção a cabeça de Arllow, que está ajoelhado com sangue escorrendo do braço e da perna feridos.
— Genesis, não! — Matteo gritou, a voz desesperada. Nemesis olhou pra ele, sua expressão de fúria e confusão.
Nesse instante, Arllow aproveitou a brecha. Ainda no chão, se apoiou sobre a perna ferida e usou a outra perna para dar um chute nas pernas de
Nemesis, fazendo-a cair e soltar a arma. Arllow soltou um grunhido de dor, incapaz de pegar a arma caída a poucos centímetros de distância. Quando Nemesis se esticou tentando pegar a arma de novo, rapidamente Christian disparou contra sua mão, fazendo-a soltar um grito de dor.
— Não, Christian! — Matteo impediu o colega de efetuar mais um disparo se colocando na frente dele.
— Saia da frente, Sano, ela é uma assassina e o objetivo da missão é claro: Capturá-la viva ou morta, — ele fala entre dentes, a raiva evidente em sua voz.
— Deixa que eu resolvo, tá bom? — Matteo se vira e se aproxima lentamente de Nemesis, parando a poucos centímetros entre ela e Arllow. Nesse momento, Christian chama um dos policiais que aguarda no lado de fora e os dois ajudam Arllow a se levantar.
Matteo pega na arma de Nemesis e joga para longe. Nemesis por sua vez, atordoada, se levanta com dificuldade e fica cara a cara com Matteo, dando costas para as grandes janelas de vidro. Ela o encara com raiva, mas ele, por sua vez, mantém uma expressão suave no rosto.
— O que foi, detetive? Não vai me dizer que o facto de eu ser idêntica à minha irmã, está te impedindo de me matar. Ela te pegou de jeito né?
— ela fala com dificuldade, tentando esconder sua dor.
— Sua irmã não existe. Ela deixou de existir naquele dia no lago — Matteo disse com a voz baixa e calma, escolhendo as palavras como se estivesse lidando com vidro prestes a se estilhaçar.
Nemesis franziu o rosto, um sorriso amargo se formando em seus lábios.
— Minha nossa, detetive... É assim que você fala de alguém com quem divide a cama? Como acha que ela vai se sentir quando souber disso?
Os lábios de Matteo se curvam em uma linha reta e, sem muita escolha, puxou um pequeno gravador do bolso e sem hesitar, apertou o play. A gravação com a voz de Marie ecoou pela sala, trazendo palavras que Nemesis temia ouvir.
Conforme as frases soavam, a expressão dela se desmanchava. Seu rosto oscila entre raiva, negação e pânico crescente. Ela tapou os ouvidos com as mãos, abanando a cabeça freneticamente em negação.
— Desliga essa merda agora! — ela gritou. Matteo obedeceu. — Você ouviu as palavras da Marie, ainda não acredita em mim?
— Cale sua boca, isso foi tudo montado! Genesis não está morta, ela é uma policial de renome, ela... Ela é... É minha irmã — sua mente entra em colapso e suas memórias se tornam confusas, fazendo ela questionar a veracidade das palavras de Sano. — É impossível, — ela acrescenta.
— Dois dias atrás você sofreu um acidente de carro e como consequência, você ficou com uma ferida vertical na nuca. Me diga como eu saberia disso se supostamente essa é a primeira vez que nos vemos?
Nemesis levou a mão até a nuca e sentiu a cicatriz recente. A confirmação atingiu como um golpe no estômago. Sua mente vacilou, esmagada pelas memórias e revelações. Imagens desconexas dançam em sua cabeça: O lago, o rosto pálido de Genesis, a expressão de medo de suas vítimas. Ela finalmente caiu em si.
— Eu não queria... Juro que não queria. Eu tentei salvar ela quando caiu no lago, eu não queria matar meu pai, mas ele ia me matar primeiro, eu só me defendi, — as palavras saem atropeladas de sua boca e as lágrimas escorrem por seu rosto.
Matteo sente um nó no peito. Ele viu nela não uma assassina, mas uma alma perdida, afogada em culpa e dor.
— Eu sei. Eu entendo, Nemesis. As coisas não precisam terminar assim. Agora que você sabe a verdade... Deixa a gente te ajudar, — ele estende a mão para ela.
Nemesis olhou para ele e por um instante, Nemesis pareceu ceder às palavras de Matteo. Uma réstia de esperança brilhou em seu coração, mas então sua expressão mudou. Seus olhos se tornaram vazios, distantes, enquanto pondera suas opções silenciosamente. Então ela sorriu.
— Não, Nemesis — disse Matteo. Sua voz é um sussurro suplicante, quase como se ele já soubesse de suas intenções. — Não faça isso. As coisas não precisam acabar assim.
O sorriso de Nemesis se alarga ainda mais e ela ignora a dor em sua mão. Nem mesmo a dor do tiro poderia se comparar à dor emocional que está sentindo agora. Seus olhos transbordam uma tristeza profunda.
— Você realmente a amou, não foi, detetive? — Ela murmurou, com lágrimas incessantes caindo pelo rosto. — Você amou minha irmã, — Matteo engoliu em seco, a garganta ardendo com a emoção.
— Eu... Te amo. Vamos resolver isso — A voz de Matteo falha enquanto seus olhos se enchem de lágrimas. Apesar de tudo, seus sentimentos são verdadeiros. Ele sabe que amou uma pessoa que há muito não existe, apenas uma versão dela, mas nem esse pensamento apaziguava a dor em seu peito.
Nemesis olhou para ele com uma expressão de resignação e gratidão silenciosa.
— Obrigada, Matteo... — Ela sussurrou.
Antes que Matteo pudesse reagir, Nemesis deu um passo para trás, depois outro, e então se virou para a janela aberta. Sem hesitar, abriu os braços e se jogou.
— Nãaaaaao! — Matteo gritou, a voz rasgando sua garganta enquanto corre para a janela.
O som impactante do corpo atingindo a superfície congelou seus músculos. Ele tentou se mover, mas as pernas não responderam. As lágrimas escaparam de seus olhos descontroladamente.
Uma mão amiga pousou sobre seu ombro, seguido de uma voz de consolo.
— Sinto muito, amigo, — disse Christian.
— Leve seu tempo, nós estaremos lá em baixo. — Com essas últimas palavras, Christian saiu da sala.
*****
Vários minutos se passaram e Matteo permaneceu ajoelhado ao pé da janela, encarando o corpo de Nemesis lá embaixo.
Metade sombra, metade luz, como alguém viveu entre dois mundos sem nunca pertencer a nenhum deles? Ele pensou.
Os passos rápidos de Christian Meyer se aproximaram dele.
— Matteo, precisamos ir. A equipe de perícia já está pronta para fechar a área.
Matteo deu um último olhar para o vazio antes de se afastar lentamente da janela. Nessa noite, algo nele se quebrou para sempre.
Quando os dois chegaram ao térreo, Nemesis já estava sendo transportada pela ambulância . Matteo parou a alguns passos de distância com os punhos cerrados. Memórias dos momentos que partilhou com Genesis aparecem em sua mente, fazendo seu coração doer ainda mais.
As sirenes se intensificaram e a chuva começou a cair como se o céu lamentasse a tragédia da noite. A verdade afinal sempre foi ambígua. Genesis e Nemesis eram duas partes do mesmo todo, duas vidas distintas ligadas por uma história fragmentada. Como ele poderia amar uma e condenar a outra? No fundo, eram a mesma alma, dividida por circunstâncias cruéis.
Quando a ambulância finalmente partiu, Matteo se afastou com passos lentos, como se cada movimento marcasse um adeus silencioso. Enquanto ele caminha para longe do prédio, deixa que o peso da noite se dissolvesse na escuridão. Talvez nunca houvesse uma verdadeira vitória, apenas a aceitação de que às vezes, a linha entre a justiça e o crime é tão fina quanto uma cicatriz na alma.
Ele se virou para a rua deserta e desapareceu na neblina, sabendo que, onde quer que fosse a partir dali, levaria consigo as sombras das duas irmãs.
0.0/5 pontuação (0 votos)
Visualizações18
-
Na Literaz, a leitura gratuita é possível graças à exibição de anúncios.
-
Ao continuar lendo, você apoia os autores e a literatura independente.
-
Obrigado por fazer parte dessa jornada!